Na mochila, cadernos com capas coloridas, livros, canetas, lápis, borracha e sentimentos contraditórios. Conhecer a professora, comprar as novidades das papelarias e, para os maiores, rever a turma, contar as aventuras das férias. Tudo isso é positivo. Mas também é hora de reajustar horários, acordar cedo. Reduzir drasticamente as horas dedicadas aos papos teclados na internet, à hipnose lúdica dos videogames e ao alucinado zapping – o hábito de trocar de canal a toda hora na televisão em busca de mais e mais atrações. Iniciar o ano letivo exige uma certa reengenharia familiar, uma operação para colocar nos trilhos o carro descarrilado durante a folga. E isso vale também para os pais, sobretudo os marinheiros de primeira viagem, com filhos matriculados na escola pela primeira vez. Estes precisam superar a ansiedade e a dor no coração para agüentar o choro dos pequenos na despedida dos primeiros dias.

Adolescentes demoram mais para entrar nos eixos. Com eles, quase nunca adianta baixar decreto e mandar o berro: “É hora de dormir.” É preciso fazê-los ver que viajaram, passearam e curtiram os amigos o suficiente. O melhor caminho ainda é a velha e boa negociação. “Nesta fase, as decisões têm que ser tomadas em conjunto, pelo convencimento”, explica a coordenadora do departamento de psicologia do colégio paulistano Santo Américo, Rosane Schiller.

Dos seis aos dez anos – para muitos até os 12 –, voltar para a escola é menos sofrido. Nesta fase, há um encantamento pelo universo escolar e pelas conquistas que o ensino representa. O problema é que a gama de instrumentos de sedução para a garotada é imensa. Não é fácil, por exemplo, abrir mão do universo de lutas, jogos e corridas virtuais oferecido pelos games. Principalmente para os meninos. É bom limitar os horários e fazer um acordo sobre a divisão do tempo. Anton, de sete anos, um dos três filhos da advogada Rita de Cássia Meschede, 39, passou as férias curtindo seu novo videogame. Em alguns dias, invadiu a madrugada. Mas sua mãe já explicou: “À noite, pode jogar no máximo duas horas. Depois, cama!”

Se o caso é de mudança de escola, os cuidados devem ser redobrados. “O ideal é envolver as crianças na escolha e, depois, na compra dos materiais e do uniforme. É uma forma de motivá-las e minimizar a ansiedade”, aconselha a psicóloga Simone Maciel, do Centro Educacional Acalanto, do Rio de Janeiro, que abriga crianças de três meses a dez anos. Foi o que fez a gerente de marketing Daniele Puharre, 37 anos, de São Paulo. Na semana passada, ela e suas filhas Marina, sete anos, e Gabriela, nove, se puseram a etiquetar livros, estojos coloridos e canetinhas de cheiro. “A nova escola é maior e isso causa certa inquietação. Mas analisamos juntas todos os detalhes e elas ficaram empolgadas”, conta a mãe.

O mais dramático neste universo é mesmo deixar os bebês pela primeira vez
na escolinha. A consultora em informática Marilan Bagatini, 39 anos, que matriculou este ano seus trigêmeos de três anos na educação infantil, sentiu na pele a
situação. “A família toda está ansiosa, mas eles entraram no clima. Estão loucos para usar a mochilinha”, destaca. Oferecer a melhor forma de adaptação exige trabalho intenso nos bons colégios. A preocupação dos educadores é tranqüilizar pais e alunos novatos.

A permanência na escola de crianças que experimentam pela primeira vez a separação dos pais é feita de forma gradativa – duas horas no primeiro dia, três
no segundo e assim por diante. O comum no início é deixar os pais o maior tempo possível no campo de visão do filho e, aos poucos, abrir espaço para a criança
criar vínculos de confiança com professores e assistentes. “Os pais devem estar seguros com a escolha que fizeram e transmitir esse sentimento para os filhos”, alerta Paula Bacchi, orientadora pedagógica de educação infantil do Colégio Santa Maria, em São Paulo. Outra forma de tranqüilizar os pequenos, todos eles ainda
sem muita noção de tempo, é informar as atividades do dia. “É interessante esclarecer: ‘Primeiro vamos ao parque, depois faremos o lanche, depois os desenhos e aí a mamãe vai chegar.’ Isso os acalma”, acrescenta Paula. Que venha a primeira lição.