Com sua delicada aparência de bonequinha de luxo, Débora Falabella passa uma imagem de fragilidade. Mas as aparências enganam – e, no caso dessa talentosa atriz, enganam para o bem. De frágil e angelical ela não tem nada. Dona de personalidade forte e de metas bem definidas na vida, essa atriz mineira de 1,60 m de altura e 50 quilos tem um completo controle de sua carreira. Recém-saída da primeira fase da minissérie JK, Débora já se enfurnou na cidade paulista de Bananal para gravar o remake de Sinhá Moça, a história romântica que fez sucesso com Lucélia Santos na década de 80 e em março substituirá a novela Alma gêmea. Débora interpretará uma jovem de idéias abolicionistas apaixonada por um rapaz (o ator Danton Mello) que luta por um ideal semelhante. Débora chega assim ao topo: o seu primeiro papel como protagonista em oito trabalhos na Rede Globo – e, para ela, interpretar uma boa mocinha é um desafio bem maior que viver uma megera. “É difícil fazer uma boazinha que não fique chata e piegas. E eu não sou piegas”, diz a atriz, pisciana que fará 27 anos no dia 22. “Eu não agüentaria ficar acomodada num tipo só.”

Para não ficar presa a “modelos de perfeição” como foi, por exemplo, a sua personagem Maria Eduarda em Senhora do destino, Débora aposta em aventuras mais arriscadas. Na peça A serpente (Nelson Rodrigues), que vem lotando o Teatro Faap em São Paulo, ela leva ao extremo no palco a máxima rodrigueana de que todo casto é um obsceno: diante da crise existencial da irmã, virgem mesmo depois de anos de casamento, a sua personagem, Guida, oferece-lhe o marido. E o perde. “A sua boca está com cheiro de sexo”, diz Guida ao adúltero. Uma fala que deve incomodar o fã-clube mais recatado da atriz.

Filha do diretor de teatro Rogério Falabella e da cantora lírica Maria Olympia Falabella e educada numa das escolas mais tradicionais de Belo Horizonte (Colégio Isabela Hendrix), ela sempre surpreende na vida real. Há um ano casou-se com o roqueiro Chuck Hipolitho, vocalista da banda paulista Forgotten Boys – ele é o integrante do grupo que traz uma tatuagem de fogo serpenteando o braço esquerdo. A cerimônia, porém, não fugiu dos padrões conservadores: véu e grinalda. Já a sua rotina no casamento é bem menos ortodoxa: Débora mantém o seu apartamento no Rio de Janeiro e o marido, o dele em São Paulo. Vivem praticamente na ponte aérea. A união se deu durante os ensaios de A serpente. “Foi muito engraçado. Eu tinha acabado de me casar, estava superfeliz e, ao mesmo tempo, fazendo uma peça que falava de infelicidade”, diz ela.

Ao contrário da maioria dos atores, que odeia ser confundida com seus papéis, Débora adora dar corda aos fãs: “Estou nessa profissão para fazer personagens e levar o público a acreditar nelas.” Ela aprendeu esse truque provavelmente quando fez a Mel na novela O clone. Mas nem sempre os truques funcionam: ao pesquisar o sotaque popular para compor a pernambucana do filme Lisbela e o prisioneiro, resolveu dar um giro pelo popularíssimo Mercado São José, no Recife. Achou que passaria despercebida usando apenas um lenço na cabeça, imaginando que as pessoas guardavam dela a imagem de seus diversos papéis, não a sua aparência real. Novamente, as aparências enganam, e, também novamente, no caso dela, enganam para o que há de melhor: Débora Falabella é genial como gente de carne e osso tanto quanto é genial como personagem. “As pessoas me viam e falavam: olha ela, querendo se disfarçar”, lembra Débora.

O cineasta José Joffily, com quem a atriz fez o filme Dois perdidos numa noite suja, acha que essa “boa mistura” de gente e personagem é uma das principais qualidades da moça: “Nos intervalos da filmagem, com tudo em volta para dispersá-la, ela não saía do papel, ficava quietinha, tinha essa intuição.” A também atriz Yara de Novaes, diretora de A serpente e sua amiga desde os tempos de Chiquititas, define Débora Falabella em um único ato: “Ela tem uma posição amoral no trabalho de atriz, toma para si o conflito das personagens, não faz julgamentos morais.” Ótimo temperamento para uma sinhazinha libertária.