O prefeito tucano de Florianópolis, Dário Berger, 47 anos, quase sempre é o primeiro a chegar e o último a deixar a sede do Executivo Municipal. Seu vício por trabalho não o deixa dependente de gabinetes. Ele está constantemente nas ruas, vistoriando obras e mantendo uma linha direta de comunicação com a população. Seu estilo empreendedor contagiou os habitantes da chamada ilha da magia, que o alçaram ao poder, impondo uma surpreendente derrota a forças políticas históricas de Santa Catarina. Um arrojado cronograma de grandes obras para alavancar a auto-estima da cidade e a decisão de turbinar a vocação tecnológica de Florianópolis para transformar a capital no maior centro de inteligência do País, a exemplo do Vale do Silício, nos EUA, são o seu grande desafio.

ISTOÉ – O sr. vai se candidatar a governador de Santa Catarina?
Dário Berger –
Faço política com o pé no chão e os olhos voltados para o futuro. Estou focado agora na minha administração. Se eu conseguir tocar meu programa, a eleição fica para depois. No primeiro ano, promovemos um choque de gestão, declaramos guerra ao desperdício e conseguimos ampliar a arrecadação em 20% e reduzir as despesas de custeio em 7%. É muita economia num curto espaço de tempo. Este ano será muito promissor para nossa gestão.

ISTOÉ – E qual é o seu desafio?
Dário –
Executar os programas defendidos durante a campanha e incrementar a vocação tecnológica da capital.

ISTOÉ – O que o sr. prometeu?
Dário –
As grandes obras de que a cidade tanto precisa, como, por exemplo, a construção de uma grande avenida para revitalizar e humanizar a parte continental da cidade. A construção de três elevados, a pavimentação, através da Operação Tapete Preto, de todas as ruas da capital. Temos 2.200 ruas, sendo 850 sem asfalto. Além disso, estamos investindo pesado em educação e saúde.

ISTOÉ – Florianópolis tem se tornado um destino turístico não mais atrelado à demanda argentina. Quais são seus projetos para o setor?
Dário
– A cidade se caracteriza por ser turística. Mas atualmente outra atividade desponta com a mesma desenvoltura: a tecnologia de informação, desenvolvimento de software. Esse setor reúne 300 empresas e fatura mais de R$ 400 milhões por ano. Temos várias universidades, o que qualifica a mão-de-obra. Porém, a capital é uma fonte de cultura, de belezas naturais que seduzem milhares de pessoas todos os anos. Logo que assumi, nossos principais balneários começaram a passar por um processo de revitalizaçã o e urbanização. Tudo para atrairmos cada vez mais turistas de bom poder aquisitivo.

ISTOÉ – O que o sr. está fazendo para incrementar essa vocação tecnológica?
Dário –
Por se tratar de uma ilha oceânica temos restrições ambientais muito fortes. Não temos indústria poluente. Quero transformar Florianópolis na capital brasileira da tecnologia. E temos todos os requisitos necessários para isso.

ISTOÉ – O sr. tem o apoio do governador Luiz Henrique (PMDB), que já foi ministro da Ciência e Tecnologia, para atingir essa meta?
Dário –
Sim. Temos elaborado as parcerias necessárias para que haja incentivos e ampliação do parque tecnológico. Estamos em via de implantar o Sapiens Parque, no norte da ilha, onde está configurado todo um complexo de 4,5 milhões de metros quadrados, idealizado para fortalecer setores econômicos que já são vocações, como o turismo, a tecnologia e serviços.

ISTOÉ – Quando se fala de Florianópolis, dos investimentos milionários, se imagina uma cidade rica. Como o sr. explica 58 bolsões de pobreza?
Dário –
De fato, Florianópolis tem duas faces: uma desenvolvida, com padrão de vida altíssimo, e outra formada por bolsões de pobreza que estão recebendo agora as intervenções necessárias para melhorar o padrão de vida dessa população. Criamos o parque ambiental no morro da Cruz, um cartão-postal da cidade, para inibir as invasões e preservar o verde existente. Se conseguirmos resolver esse problema, isso já terá valido o mandato.

ISTOÉ – O sr. tem bom trânsito no governo Lula?
Dário –
As torneiras se fecharam, dificultando muito a solução de problemas emergenciais. Já a administração anterior (da prefeita Ângela Amin) alavancou muitos recursos na gestão FHC.

ISTOÉ – Dois senadores e seis deputados federais da bancada do Estado têm base eleitoral na capital. Diante desse quadro, não fica difícil arrumar recursos para um prefeito que derrotou a elite política local?
Dário –
Infelizmente, existe isso e temos que evoluir. Na democracia, pressupõe-se que quem vence a eleição governa. Dificultar a administração, não estabelecer as parcerias para que quem venceu possa administrar é não ter vocação política para a coisa pública. Seria bom que essas pessoas fossem cuidar de suas vidas e deixassem a parte pública para quem tem vocação, ideal de superar as diferenças, o ódio e o rancor, a fim de que a cidade possa crescer e prosperar.