Viajar é uma maneira de recarregar energias. Mas para que tudo saia bem, além de pensar no que levar, é importante incluir cuidados com a saúde no planejamento do roteiro. O conselho é do médico gaúcho Fernando Lucchese, que devido as suas diversas andanças pelo mundo ganhou experiência no assunto e lançou recentemente o livro Viajando com saúde (L&PM Editora). Certa vez durante um vôo São Paulo–Porto Alegre, ele percebeu que um passageiro não se sentia bem. Lucchese descobriu que o tripulante sofria de angina (fortes dores no peito) e tinha deixado seus remédios na bagagem despachada. O médico resolveu a situação com drogas disponíveis no avião. Noutra ocasião, um parente de Lucchese se esqueceu de levar o antibiótico que tomava contra infecção urinária. Ao chegar ao destino, os Estados Unidos, precisou procurar um pronto-socorro. Como só era possível comprar o medicamento lá após a realização de exames, ele perdeu um dia de viagem para resolver o imbróglio e teve de desembolsar US$ 500.

Durante cinco anos, Lucchese reuniu os conhecimentos adquiridos
ao longo de suas viagens e dados fornecidos por aeromoças, comandantes de vôo e serviços consulares. O resultado é uma obra repleta de informações que vão desde os problemas de saúde mais comuns em viagens até dicas de como arrumar bem uma mala. ISTOÉ selecionou algumas delas.

Preparativos

Dias antes de viajar consulte o médico para checar a saúde. Quem é portador de alguma doença deve verificar se está levando remédios na quantidade certa. Próximo à viagem, não se submeta a cirurgias, mesmo que pequenas, e evite mudar os medicamentos normalmente usados. Se você for pegar avião e tiver restrições alimentares, peça uma dieta especial à companhia com 24 horas de antecedência. Resolva pendências para não ficar estressado durante o passeio. Por exemplo, adie compromissos e planeje o pagamento de contas e a organização da casa.

Bagagem de mão

Todos os itens essenciais para sua sobrevivência devem estar na bagagem de mão, como os remédios que costuma tomar (por exemplo, os indicados para problemas cardíacos). Se tem alguma doença, leve uma receita médica detalhada com a descrição da enfermidade e dos procedimentos usados para controlá-la.

Na mala

Faça a mala com antecedência. Antes de selecionar as roupas,
associe o número de dias, o clima e as necessidades impostas pela viagem, como calçado para caminhadas na mata. Dependendo da temperatura, leve um casaco comprido que sirva como proteção contra chuva, vento e frio. Separe numa bolsa filtro solar, repelente, gaze, esparadrapo e termômetro.

Viagem de carro

Faça a revisão do automóvel. Leve mapa, uma segunda chave do carro, documentos do veículo e do seguro, lanterna, bolsa térmica para água, copos descartáveis e frutas. Se for viajar com as crianças, mantenha-as ocupadas com jogos infantis, livros ou brinquedos.

Viagem de avião

A baixa pressão atmosférica da cabine provoca uma série de reações no organismo. É comum o corpo ficar inchado. Por isso, roupas e sapatos apertados devem ser evitados. A baixa umidade do ar no avião também é responsável pelo ressecamento da boca, garganta e pele e pela congestão nasal. Beba muito líquido (água e suco) para hidratar o organismo. Bebida alcoólica desidrata o corpo. E durante o vôo seu efeito é potencializado devido à altitude e ao ar rarefeito. Passar hidratante é outra alternativa para combater a secura do corpo. O uso de descongestionante para desentupir o nariz ajuda, mas consulte seu médico para saber qual utilizar.

Problemas comuns nos vôos

Inchaço nos pés – Para evitar esse incômodo, mantenha-se em movimento. Procure se levantar a cada duas horas e, se possível,
andar pelo corredor do avião por alguns minutos. Faça flexões com a ponta dos pés para cima e para baixo, repetindo o movimento cinco vezes de cada lado.

Dor de ouvido – Pode ser causada por obstruções nasais, gripe ou até pressurização incompleta da cabine. Proteja os ouvidos com tampões ou use descongestionantes. Em caso de gripe, os nasais também ajudam. Para os bebês, a decolagem e aterrissagem são momentos cruciais devido à turbulência e às alterações de pressurização. Um algodão embebido em óleo é o suficiente para aliviar o desconforto.

Trombose venosa profunda (TVP) – Ficar horas sentado na mesma posição pode levar à formação de coágulos nas pernas. Quando os coágulos se desprendem na circulação, há risco de que eles se alojem nos pulmões, gerando a embolia pulmonar. Quase sempre fatal, o problema acomete pessoas com tendência à TVP durante viagens demoradas em aviões, ônibus ou carros. Alguns fatores predispõem à doença: história familiar, gravidez, ter mais de 40 anos e distúrbios que aumentam a coagulação sanguínea. Para evitar a trombose, é importante se movimentar e fazer os exercícios de flexões com os pés descritos no item inchaço nos pés. Outra alternativa é usar meias elásticas.

Doenças que costumam surgir durante as viagens

Ao aparecerem sintomas de qualquer um dos males descritos abaixo, recomenda-se procurar um médico ou o pronto-socorro mais próximo.

Diarréia – É a mais comum entre os viajantes e ocorre devido à ingestão de água e alimentos contaminados. Por isso, evite água não fervida, saladas e alimentos crus. Beba bastante líquido. E se o problema aparecer, uma dica é fazer o soro caseiro com um litro de água, meia colher de chá de sal de cozinha e uma colher de chá de açúcar. Tome um copo após cada evacuação.

Infecção urinária (cistite) – Vontade de urinar frequentemente, ardência urinária e cheiro forte. É mais frequente nas mulheres. Às vezes, as crises podem acontecer na viagem devido à mudança de temperatura e queda da imunidade, entre outros fatores. Tome, em média, dois litros de água por dia. Antibióticos devem ser prescritos pelo médico.

Febre amarela – A doença é transmitida por mosquitos. Os sintomas são febre alta, fraqueza e dor de cabeça. Após uma semana, ocorre uma melhora. O tratamento é apenas dos sintomas. A prevenção é feita com a vacina. O ideal é tomá-la 15 dias antes da viagem, mas a proteção já começa a surtir efeito a partir do oitavo dia.

Dengue – O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que cresce em águas paradas. Há quatro subtipos de vírus e a reinfecção tem maior gravidade. Os incômodos são febre alta, dor de cabeça, nas articulações, nas costas. Em casa, não deixe acumular água em recipientes. Use repelente de insetos.

Hepatite A – O vírus está presente em alimentos contaminados. A evolução é benigna. Mal-estar, amarelão da pele, urina escura e fezes claras são os sinais. A vacina é a forma de prevenir a hepatite.

Hepatite B

– O vírus é transmitido por sangue infectado, agulhas, relações sexuais, tatuagens. A recuperação é de um mês e há vacina contra a doença. O tratamento é feito com medicamento específico.