Quem imaginaria a cena? Filas de americanos nos aeroportos brasileiros, com seus chapéus Panamá, coletes safári e malas pesadas, tocando piano e sendo fotografados por policiais. Acostumados a longas filas e muita burocracia para entrar nos Estados Unidos, os brasileiros viram, desde segunda-feira 5, turistas americanos enfrentando espera de até oito horas para desembarcar no País. O juiz federal Julier Sebastião da Silva, de Mato Grosso, obrigou todo americano que entra no Brasil, por
terra, mar ou ar, a ser fichado. Foi o troco, ou “política de reciprocidade”, para uma medida adotada pelo governo americano.
A situação gerou desconforto entre os dois países. O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, queixou-se do tratamento “discriminatório” e “hostil” ao ministro de Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim. O chanceler Amorim disse a ISTOÉ que “Brasil e EUA vão buscar soluções que evitem constrangimento”.

Talvez uma dessas soluções seja a de colocar equipamentos informatizados semelhantes aos americanos que já estão em poder da Polícia Federal. O uso dessas máquinas depende apenas de uma ordem oficial. Mas a Advocacia Geral da União deve entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal pedindo anulação judicial da identificação. O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, temeroso de que a guerra das fotos e digitais prejudique sobretudo a cidade, que espera milhares de americanos para o verão e o Carnaval, também está tentando suspender a aplicação da medida. “É uma represália que nos ridiculariza diante do mundo”, afirmou Maia. Não é pouca coisa. São 130 mil turistas americanos por ano na capital fluminense, os que mais gastam, deixando na cidade US$ 120 (cerca de R$ 360) por dia, o dobro dos argentinos. Só no último réveillon o Rio recebeu quase sete mil americanos, e esse montante deve pular para 70 mil no Carnaval.

“Depois dessa experiência, considero seriamente a hipótese de nunca mais pisar aqui”, esbravejava Kevin Byrne, produtor de filmes, que vinha de Nova York, e, junto com dezenas de outros compatriotas, enfrentou na segunda-feira uma espera de até oito horas para ser identificado no aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio. As filas diminuíram depois que a Polícia Federal colocou mais agentes no atendimento e, seguindo o exemplo da polícia paulista, passou a tirar apenas a impressão digital do polegar direito – e não dos dez dedos, como vinha sendo feito. A chegada do transatlântico Amsterdam ao porto do Rio, na quarta-feira 7, mostrou que a primeira semana da crise foi só a ponta do iceberg. Os 650 americanos a bordo levaram cerca de 40 minutos para deixar o terminal. Mas o pior está por vir: 37 transatlânticos devem chegar à cidade até o fim do verão, lotados de americanos.