Anéis, brincos, colares, pulseiras… A nova coleção que começa a deixar as pequenas oficinas localizadas às margens da região do Baixo Rio Branco, no sul do Estado de Roraima, promete mudar a vida de adultos e crianças. É nesse pedaço pobre da selva amazônica de pouco mais de 40 mil quilômetros quadrados que os chamados ribeirinhos estão redescobrindo o artesanato como forma de ganhar algum dinheiro e ajudar no sustento da família. Por enquanto, eles estão montando suas jóias com a ajuda do Sebrae de Roraima, que em dois anos já investiu cerca de R$ 600 mil em um projeto de inclusão social das comunidades ribeirinhas através do artesanato, do turismo, da pesca esportiva e do extrativismo sustentável.
    

Na última visita que fez às comunidades de Panacarica, Caicubi, Cachoeirinha, Sacaí, Terra Preta e Lago Grande, em meados do mês de dezembro, o Sebrae levou o designer mexicano Lars Diederichsen para orientar artesãs e artesões na criação de uma linha exclusiva do que está sendo batizado de Jóias da Floresta. Produzidas com sementes de tucum, tucumã, inajá, caroço de açaí, madeiras, cipós e fibras – todos retirados da floresta –, as peças são de uma delicadeza impressionante e fascinam pelo colorido conseguido graças à mistura de raspas de troncos e cascas de árvores, cipós e resinas apuradas no fogo depois de colhidas. A consultora Rozani Elizabet Menezes, uma das idealizadoras do projeto e artesã por ofício e paixão, não se cansa de procurar na mata novos materiais para melhorar a qualidade das peças produzidas pelos ribeirinhos. A cada mergulho na floresta ela descobre e ensina aos artesãos novas tonalidades de cores que embelezam ainda mais as jóias. É dela, por exemplo, a descoberta da resina do crumati que serve de fixador para corantes naturais como o urucum, uma semente que fornece uma substância vermelha, usada pelos índios como tintura.

As 19 famílias de Panacarica, uma pequena comunidade próxima ao encontro dos rios Branco e Negro e a mais de quatro dias de barco de Boa Vista, capital de Roraima, estão sentindo a diferença desde que passaram a trabalhar com artesanato, em 2001. Alberta Marques Gomes, 33 anos, se divide entre o trabalho na roça de mandioca, os afazeres de casa e o artesanato. Apesar do tempo escasso, chega a faturar R$ 200 por mês com a venda dos anéis que produz na oficina montada na vila. O marido, seu Nenê, e o filho José, 13 anos, também contribuem fazendo miniaturas de barcos que, junto com os anéis, são vendidas aos turistas que vêm à região para a pesca esportiva. “É um capitalzinho que não tínhamos. O dinheiro serve para comprar material escolar e roupas para as crianças”, diz Alberta. Com uma população de 110 pessoas e uma economia de subsistência baseada na pesca e nas roças de melancia e mandioca, a maioria das casas do vilarejo de Panacarica já possui televisão, graças às antenas parabólicas compradas com a ajuda do artesanato e ao motor a óleo diesel que é ligado às 14 horas e desligado às 23 horas e fornece luz ao pequeno povoado.
     
Em Cachoeirinha, às margens do rio Amajaú, afluente do Branco, um dos maiores vilarejos da região com mais de 100 famílias (cerca de 360 pessoas), a comunidade está entusiasmada com o trabalho dos 25 artesãos que produzem anéis, colares e brincos e estão transformando as sementes maiores de uma espécie de palmeira em embalagem para suas peças. Próxima a Caracaraí, município-sede da região, o artesanato começou com o casal Genival Dias de Castro, 27 anos, e Noédia Gomes, 22 anos, que fazia anéis e, convocado pelo Sebrae, passou a ensinar os vizinhos. Hoje, além dos anéis, os 25 trabalhadores criam colares, pulseiras, tornozeleiras e brincos, todos confeccionados com materiais retirados da floresta. A dona-de-casa Maria da Conceição Cerdeira, 31 anos, pegou gosto pelo ofício. Uma das mais novas da turma, criou um conjunto de colares e brincos e já pensa em encontrar compradores para as suas peças. “Vamos batalhar para conseguir um cliente que compre nossos produtos”, diz ela. A beleza das novas peças chamou a atenção do designer mexicano, que aprovou o trabalho e tratou de orientar os artesãos sobre a melhor forma de comercializar os produtos e estipular o preço de cada peça.

As jóias da floresta são a parte mais visível de um longo trabalho que está sendo desenvolvido pelo Sebrae em conjunto com uma série de patrocinadores entre empresas e prefeituras da região, como a de Caracaraí. A idéia é que as comunidades possam, além das jóias, produzir outras coisas de forma sustentável, como a criação de peixes em gaiolas e a extração de castanha de maneira racional. “Queremos transformar essas pessoas em pequenos empresários da floresta”, diz Armando Freire Ladeira, diretor do Sebrae/RR. Um sonho possível, se depender do entusiasmo dos ribeirinhos que começam agora a colher os resultados de um trabalho iniciado em 2001.
 


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