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Passeata na ponte do Brooklyn terminou com mais de 700 presos

Em movimento similar ao registrado na praça Tahrir, no Egito, jovens americanos transformaram em foco irradiador de protestos as imediações de Wall Street, o distrito financeiro de Nova York. No 19º dia de ocupação da praça Zuccotti – que eles preferem chamar pelo antigo nome de Liberdade –, os manifestantes ganharam reforço na quarta-feira 5. No final da tarde, representantes de pelo menos 15 sindicatos engrossaram as fileiras de uma passeata convocada pelo Ocupe Wall Street, como foi batizado o movimento. “Todo o mérito é desses garotos, que ousaram ocupar a praça e se fazer ouvir”, disse Paul Piazza, do TWU, o sindicato dos trabalhadores do metrô, ônibus e companhias aéreas. “Eles são o futuro e nós temos que apoiá-los porque suas reivindicações são também as nossas.”

Os protestos ganharam ainda mais adeptos e se espalharam por dezenas de cidades americanas, entre elas Boston, Chicago, Los Angeles, Seattle e Washington. Como em Nova York, as causas defendidas são múltiplas e difusas (leia quadro). Em comum, os manifestantes têm o fato de se sentirem integrantes dos 99% da população prejudicada pelo que consideram a “ganância” do sistema financeiro americano.

Da mesma forma que na praça egípcia, o Ocupe Wall Street não tem um comando tradicional de lideranças, embora a praça Zuccotti esteja operando como uma organizada central, com espaços destinados a reuniões, alimentação, descanso e até um serviço de atendimento à imprensa. Na origem da mobilização por meio da internet estão dois grupos ativistas: o Adbusters, conhecido por combater o consumo exacerbado, e o Anonymous, formado por hackers.

A ocupação da praça Zuccotti não passava de uma questão local até o domingo 8, quando a polícia de Nova York prendeu mais de 700 manifestantes em passeata pela cinematográfica ponte do Brooklyn. Imobilizados com algemas de plástico, os presos não demoraram a ser libertados, mas o episódio chamou atenção para o movimento. Até então, eles haviam recebido apenas a solidariedade de personalidades habituadas a criticar governos, como o documentarista Michael Moore e o Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Depois das prisões, manifestações indiretas de apoio aos manifestantes foram feitas pelo megainvestidor George Soros; pelo secretário de Tesouro, Timothy Geithner; e pelo presidente do banco central americano, Ben Bernanke. “Eles reprovam, e não sem razão, o setor financeiro pela situação que nos encontramos e estão descontentes com a resposta das autoridades”, afirmou Bernanke na terça-feira 4 no Congresso, em Washington. “Não posso reprová-los.” 

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