Pela primeira vez, os militares vão garantir um apoio técnico e logístico à busca dos corpos dos guerrilheiros que combateram a ditadura militar na região do Araguaia, nos anos 70. Até o governo Fernando Henrique o assunto foi adiado ou rejeitado nas Forças Armadas. Em portaria confidencial, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, determina que “todo esforço possível seja feito no apoio à busca dos restos mortais dos guerrilheiros”. O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que há 20 anos defende a busca como advogado das famílias, foi o autor do pedido à Justiça para a identificação dos corpos. “As famílias dos mortos têm direito de homenagear seus entes queridos”, diz o parlamentar, que preside a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

A suspensão do bloqueio dos militares à busca dos corpos ocorre
25 anos depois da anistia. O porta-voz do Exército, general Augusto Heleno Pereira Ribeiro, disse que “a tarefa do Araguaia será cumprida
sem nenhuma conotação de caráter ideológico e sem revanchismo, pois trata-se de uma tentativa justa de buscar corpos de brasileiros”. Opinião semelhante tem o brigadeiro Sérgio Luiz Burger, ex-chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, que como piloto participou das operações de repressão. Para ele, “será da maior utilidade o papel das Forças Armadas na busca dos restos mortais dos guerrilheiros e podem ser encontrados também corpos de militares”.

Para o brigadeiro Burger, “passados 30 anos da guerrilha, não há nenhum inconveniente na abertura dos arquivos sobre aquele conflito entre idealistas”. Através do Decreto 4805, o presidente Lula criou uma comissão com a participação dos Ministérios da Justiça e Defesa e com o apoio da Marinha, do Exército e da Aeronáutica para levantar documentos e informações que possibilitem as buscas. O brigadeiro Antonio Guilherme Telles Ribeiro, integrante da comissão, disse que “a orientação adotada pelo comandante da Força Aérea, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, é a de garantir o máximo esforço possível”. Telles Ribeiro afirmou que “os trabalhos da Força Aérea terão motivação no dever profissional e no respeito à história do Brasil”. Ele adiantou que entre os oficiais a prestarem informações sobre a busca dos restos mortais está o coronel Pedro Corrêa Cabral.

O coronel Cabral, que participou das operações aéreas contra a guerrilha, disse que “é possível resgatar os restos mortais dos guerrilheiros e o apoio militar será relevante”. Segundo ele, “a convenção da ONU sobre presos em conflitos foi totalmente desrespeitada no Araguaia” e fez uma ressalva: “Eu não aceitei as idéias utópicas dos guerrilheiros, mas o sofrimento a que foram submetidos foi cruel e desumano.”