Solte um suspiro quem tem o hábito de contar as horas que faltam para sair do escritório e descansar no final de semana, em especial nesses belos dias de verão. Aqueles que nem pensam nisso podem correr já para a mesa de trabalho. A brincadeira tem um fundo de seriedade. Uma pesquisa holandesa recente concluiu que há profissionais que simplesmente adoecem quando se afastam, nos finais de semana ou feriados, da pesada labuta cotidiana. Para eles, os momentos de dolce far niente representam verdadeira tortura. Cientistas da Universidade de Tilburg, em Amsterdã, entrevistaram 1.128 homens e 765 mulheres para saber como eles se sentiam quando estavam de folga. O resultado foi inesperado. Cerca de 3% deles disseram ter dores musculares, fadiga, náusea e resfriados.

E o pior é que os queixosos já sofrem desses sintomas há pelo menos dez anos. A razão é que eles são completamente bitolados em trabalho e não conseguem se desligar do ofício. Quando isso acontece, por incrível que pareça, ficam mais estressados e ansiosos. Assim, as defesas do corpo diminuem e o organismo fica suscetível a diversos problemas de saúde.
Os estudiosos holandeses estão chamando o fenômeno de doença do ócio. Especialistas ouvidos por ISTOÉ afirmam que não há dados sobre o assunto no Brasil. Porém, o psicólogo Wanderley Codo, da Universidade de Brasília, suspeita que o mal também deva rondar por aqui. “Somos um país no qual a sociedade trabalha muito para sobreviver. Provavelmente, deve haver casos parecidos de pessoas com dificuldades de se desconectar do trabalho”, analisa.

De acordo com a pesquisa holandesa, os profissionais geralmente sobrecarregados de trabalho e os com alto grau de responsabilidade estão mais propensos à doença do ócio. Os especialistas brasileiros acreditam que o funcionário workaholic pode ser “candidato” ao novo problema. “Em geral, são pessoas que não têm bom relacionamento com a família e os amigos e trabalham bastante para fugir da vida social, por exemplo”, justifica o psicólogo José Roberto Leite, da Universidade Federal de São Paulo. É possível ainda que a doença do ócio atinja quem é apaixonado pelo que faz. “Também nesse caso o corpo sofre as consequências da saudade do trabalho”, afirma Codo. Além de cair de cama, as vítimas do mal podem ter irritabilidade ou insônia.

Para tentar driblar o problema, é importante aprender a dedicar ao emprego o tempo necessário para a realização das tarefas do dia. Não mais do que isso. “Praticar meditação, ioga ou outras técnicas de relaxamento ajuda a diminuir a ansiedade e a controlar o impulso de querer trabalhar 24 horas por dia”, ensina Ana Maria Rossi, presidente da Internacional Stress Management do Brasil. Se o recurso não funcionar, deve-se procurar um especialista em stress. Ele demonstrará à pessoa o que fazer para se organizar. É preciso ter hora para trabalhar, para curtir a família, os amigos e passear. Afinal de contas, ninguém é de ferro.