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POLÊMICO
Lampião e sua mulher, Maria Bonita (em pé):
amantes da música e defensores dos padres

No auge de sua trajetória no cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, conseguiu com um bando de 50 homens afugentar 400 soldados que o perseguiam. O episódio deu-se no Piauí, em 1927, e ficou conhecido como a Batalha de Macambira. É o melhor exemplo do tino de estrategista do cangaceiro, cujo grupo estava prestes a se render, desprovido de montarias e armas, por causa de um violento combate anterior. Ao lembrar essa passagem no livro “De Olho em Lampião – Violência e Esperteza” (Claroenigma), a escritora e doutora em ciências políticas Isabel Lustosa sublinha a perspicácia de um dos personagens míticos da história brasileira no século XX. Sua sucinta obra, contudo, tira do “rei do cangaço” o título de herói dos desfavorecidos e o coloca como um criminoso sem escrúpulos longe da aura de “bandido social” que ganhou da esquerda. “Esse mito fica bem no cinema e na literatura, mas num livro de história os personagens precisam ser descritos com todas as suas contradições”, diz Isabel.

A biografia sobre esse pernambucano, que morreu em 1938 aos 41 anos, tem 100 páginas de fácil leitura e integra a coleção “De Olho Em”, que busca introduzir o leitor a assuntos históricos por meio da biografia de personagens como dom Pedro II e Euclides da Cunha – já no mercado – e o rebelde Zumbi, enfocado no próximo lançamento. Eis algumas das contradições de Lampião, apontadas pela autora: identificava-se mais com a classe dominante do que com o povo, tinha preconceito racial apesar da cor de sua pele estar “perto do negro”, não matava padres e usava a fortuna amealhada para garantir munição e conforto para sua vida nômade. “Ele era um homem muito inteligente, mas isso não o torna menos bandido”, diz Isabel, que não deixou escapar curiosidades como a cena em que Lampião, possível autor do forró “Mulher Rendeira”, apreciou a música de Cole Porter, executada por uma banda a bordo de uma balsa no rio São Francisco.

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"Lampião era muito inteligente, mas isso não o torna menos bandido"
Isabel Lustosa, autora