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"Esses submarinos serão muito importantes
para explorar o petróleo no pré-sal"

Andy Bowen, chefe do Nereus

As profundezas dos oceanos podem revelar muito mais do que areia e criaturas estranhas. Para chegar às profundidades abissais, porém, os cientistas precisam da ajuda de veículos cada vez mais sofisticados. Um deles é o Nereus, que em breve vai mergulhar na Fossa de Kermadec, na Nova Zelândia, um buraco de mais de dez quilômetros de profundidade quase inexplorado – o recorde de um ser humano submerso com um cilindro de oxigênio é 381 metros. O objetivo dos cientistas, liderados pelo engenheiro Andy Bowen, do Wood Hole Oceanographic Institution (WHOI), nos EUA, é conhecer melhor a geologia, a biologia e outras características do local, até hoje um mistério para a ciência.

O grande desafio de Bowen, porém, começa depois dessa missão, ainda sem cronograma. Ele e sua equipe acabam de receber um financiamento da National Science Foundation, também dos EUA, para adaptar o veículo às duras condições das gélidas águas do Ártico. “Estamos modificando o Nereus para o ambiente gelado. Os aspectos físicos desse ambiente exigem algumas alterações, que começaremos a fazer em breve”, disse Bowen à ISTOÉ. O submarino, que se move de forma autônoma, ganhou notoriedade em 2009, quando chegou até as Fossas Marianas, ponto mais profundo dos oceanos, com mais de 11 quilômetros de profundidade.

O veículo adaptado deve estar pronto em 2014, quando vai poder investigar as mudanças climáticas durante missões no Mar Ártico. Bowen, que participou da criação do Jason Jr., robô submarino que investigou os destroços do Titanic em 1980, diz que as aplicações dessa tecnologia vão além do interesse científico pelos oceanos. “No Brasil, esses submarinos serão muito importantes para a exploração de petróleo na camada do pré-sal, que fica em grandes profundidades”, diz o cientista.

Ele revela, inclusive, que já foram realizadas conversas informais entre a WHOI e institutos de pesquisa brasileiros. E que, em breve, deve haver uma visita oficial dos americanos ao Brasil para tratar de colaboração tecnológica entre ambas as partes nessa área. “Seu país certamente vai aumentar sua capacidade nesse setor”, afirma. Das profundezas do subsolo, passando pelas fossas oceânicas, os submarinos-robôs possuem aplicações mesmo no espaço.

“Saber explorar o fundo do mar é fundamental para o estudo de um possível planeta habitável fora do sistema solar”, acrescenta Bowen. Ele se baseia numa máxima da astrobiologia, ciência que estuda a vida fora do sistema solar, de que, se houver um outro planeta com organismos vivos, este será oceânico – água em grande quantidade torna maiores as chances de haver micro-organismos, plantas ou animais.

Não deixa de ser paradoxal o fato de os seres humanos explorarem o oceano para alcançar os astros, pois já pisamos mais vezes na Lua do que nas partes mais profundas dos oceanos. Os avanços obtidos desde o Jason Jr. têm um grande peso nisso. Movido a três mil baterias de íons de lítio, o Nereus não precisa de cabos grossos e pesados, que comprometem o deslocamento do veí­culo. Um único fio, da espessura de um fio de cabelo, é suficiente para transmitir toda a informação coletada pelo submarino. “A melhoria dos sistemas de controle, a confiabilidade do equipamento, a redução dos custos… Tudo isso são apenas alguns fatores que evoluíram desde as primeiras missões desse tipo”, diz Bowen. Se o espaço e o fundo do mar não são mais o limite, para onde mais podemos ir?

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