Os líderes do Partido dos Trabalhadores reagiram como sempre a mais uma alta dos juros, que saltaram, na quarta-feira 22, de 25% ao ano para 25,5%: criticando a atitude do governo. O senador eleito Aloizio Mercadante disse que o aumento dos juros “nunca é positivo”. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), José Felício, afirmou que elevar as taxas “é sempre péssimo”. O presidente nacional do partido, José Genoino, disse que “ninguém fica satisfeito com isso”. De fato, é difícil encontrar alguém que tenha demonstrado algum grau de satisfação com a decisão da nova equipe econômica (com a óbvia exceção dos banqueiros, cuja principal entidade de classe, a Febraban, elogiou a medida).

O sentimento de frustração, mesmo que envolto em um manto
de esperança, é generalizado. “Queremos acreditar que a decisão
esteja inserida no contexto de construção da credibilidade de um
governo que se inicia”, diz nota da Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (Fiesp).

O presidente Lula, sem citar claramente a alta dos juros, pediu paciência. “Troca-se de médico, mas as coisas não se resolvem de uma vez”, afirmou na quinta-feira 23. O médico em questão, o ministro da Fazenda Antônio Palocci, pediu “compreensão” para a medida. “Índices de juros são decisões técnicas que nós vamos respeitar. Queremos que o Banco Central atue de maneira rigorosamente técnica. Todos nós queremos que os juros caiam, mas é preciso que isso seja feito com sustentabilidade”, disse o ministro. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não se pronunciou publicamente após o anúncio.

A ata da reunião que ordenou o acréscimo de 0,5 ponto porcentual e fixou a mais alta taxa de juros desde maio de 1999 só virá à tona na quarta-feira 29. Mas, mesmo sem dispor dos motivos oficiais que justificaram a mudança, é possível refazer o percurso que levou à majoração. A semana iniciou com o dólar no confortável patamar dos
R$ 3,30 e disparou, principalmente por conta das ameaças de guerra no Iraque. Na quinta-feira 23, a moeda americana valia R$ 3,53.

Ao mesmo tempo, os índices divulgados ao longo da semana apontavam para a estabilidade da inflação, enquanto o desejável seria um forte recuo. Na terça-feira 21, o Banco Central apresentou uma reedição
do desmoralizado sistema de metas de inflação (desacreditado por ter furado retumbantemente nos dois últimos anos). O objetivo a perseguir passa a ser uma inflação de 8,5% em 2003 (e não mais os inexequíveis 6,5%). O problema é que a aparente “folga” criada foi consumida imediatamente pela dupla dólar em alta–inflação estável. Daí foi preciso – segundo a lógica seguida pela equipe econômica – sinalizar para o mercado financeiro que as metas são para valer e um pequeno aumento nos juros hoje resultaria no controle da inflação. Um movimento, diga-se, sempre criticado e posto em dúvida pela oposição durante os anos Fernando Henrique Cardoso. E, segundo alguns analistas, recentemente desmentido pelos atuais indicadores. A inflação, que continua na casa dos 2% ao mês, não cedeu como deveria após o salto de 18% para
25% nos juros promovido em dezembro.

Em casa de Ferreiro…

 ministro Palocci teve sua fama de defensor ferino da austeridade com a coisa pública abalada na semana passada. O seu vice e substituto na Prefeitura de Ribeirão Preto, Gilberto Maggioni (filiado ao nanico PMN, parceiro do PT nas eleições municipais de 2000), revelou na quarta-feira 22 que encontrou um dívida de R$ 38 milhões, o equivalente a 10% da arrecadação anual. Palocci foi prefeito da cidade durante 22 meses. Renunciou em dezembro para assumir a transição presidencial e, na virada do ano, a pasta da Fazenda.

Surpreendido com os números, o atual comandante do executivo pediu a seus secretários que puxem os freios nas despesas até que os débitos sejam devidamente identificados, mas isentou Palocci de responsabilidades. Segundo Maggioni, o envolvimento com a campanha de Lula ao longo do ano passado teria afastado, na prática, o então prefeito de suas atividades. “Nosso filho mais ilustre é um megalomaníaco”, diz o vereador oposicionista Nicanor Lopes (PSDB), referindo-se às grandes obras tocadas durante a administração Palocci. “Ele é muito competente politicamente, mas é um desastre como administrador”, avalia Lopes. O ministro não se manifestou sobre a dívida. Sua assessoria informou que ele aguarda a publicação dos números consolidados para se pronunciar.