A sorte do PMDB está onde sempre esteve: nas mãos do Palácio do Planalto. Um esboço de pacificação do partido foi anunciado na tarde de quarta-feira 22 pelo personagem menos ouvido nos últimos dias: o presidente do PMDB, Michel Temer (SP). Comandante da cúpula pemedebista que perdeu a eleição com o tucano José Serra, o deputado conversou durante duas horas com o senador José Sarney (AP), líder da facção rebelde que ganhou a eleição com Lula.

Tudo parecia pronto para o anúncio formal, no dia seguinte, do grande acordo que iria agradar todos os lados e consolidar a maioria governista no Congresso. Sarney seria sagrado presidente do Senado, compensando seu adversário, Renan Calheiros (AL), com a permanência na liderança do PMDB na Casa até o final do mandato de Temer como presidente do partido, em setembro. Aí, Renan o sucederia no comando do partido, cedendo o posto de líder para o senador Pedro Simon (RS). O líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), ficaria com o cargo de vice-presidente da Câmara e abriria a liderança para o deputado Eunício Oliveira (CE), genro do ex-deputado Paes de Andrade, um dos líderes rebeldes. De quebra, a cúpula peemedebista cancelaria a intervenção na seção paulista de Quércia e, em contrapartida, a ala dissidente desistiria da convenção marcada para 16 de fevereiro com o objetivo de derrubar a cúpula. Parecia tudo amarrado.

Ainda na quarta-feira 22, a salada peemedebista tinha um gosto de vinagre, que transbordou na quinta-feira 23, diante da reação da ala rebelde. “O Sarney tem que entender que não basta resolver o problema dele, apenas”, reclamou o ex-governador Quércia, irritado com o acordo. Alguns telefonemas depois, entravam no barco quercista os governadores Roberto Requião (PR) e Jarbas Vasconcelos (PE). Sarney desistiu de embarcar para São Paulo, onde tentaria acalmar Quércia, que reagiu convocando a imprensa: “É inaceitável manter no comando do partido os mesmos nomes que durante oito anos massacraram a ala autêntica do PMDB.” Do Sul, denunciou o senador Pedro Simon: “Até setembro chegar, eles engambelam o Sarney”, desconfia o senador, prometendo disputar a liderança na bancada, com ou sem acordo.

Os rebeldes lembraram que, até lá, o velho comando pode influir nas seções estaduais e na distribuição de comissões no Congresso. Na dúvida, Quércia começou a enviar já na quinta-feira telegramas confirmando a reunião dos rebeldes no dia 30 em Brasília, que o acordo queria desmarcar. Publicamente, Sarney nega a disputa em plenário com Renan. Mas, fora do Senado, o pau come solto. Não interessa a ele, nem ao governo, o apoio de um PMDB dividido. O acordo em torno de Sarney ainda não foi anunciado. Mas ganha o peso do Planalto nesta semana, que termina na sexta-feira 31, data marcada para a eleição do candidato do PMDB à presidência do Senado. Com ou sem acordo.