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AVANÇO
O cientista Mariano Esteban liderou estudo com o imunizante

De tempos em tempos, a divulgação de resultados positivos com alguma substância em teste contra o vírus da Aids renova as esperanças de achar um imunizante para evitar a enfermidade. Na semana passada, foi a vez de um composto espanhol chamar para si as atenções mundiais. Cientistas do Centro Nacional de Biotecnologia (CBN) anunciaram que sua fórmula mostrou-se eficiente para combater o vírus em um estudo feito com 30 voluntários sadios. O trabalho foi publicado na revista científica “Journal of Virology”.

O imunizante testado, chamado de MVA-B, é fruto da associação de fragmentos de um vírus muito usado em vacinas e de genes extraídos do HIV. Exposto a essa combinação, o organismo humano criou defesas contra proteínas contidas no HIV. Segundo os pesquisadores, houve boa resposta imunológica em 90% das pessoas vacinadas. Além disso, a maioria manteve a imunidade elevada por um ano. Na próxima etapa da pesquisa, marcada para outubro, o composto será avaliado em voluntários infectados pelo HIV. “Queremos saber quanto a vacina é capaz de evitar a replicação do vírus e manter a doença sob controle”, disse à ISTOÉ o pesquisador Mariano Esteban, um dos responsáveis pelo trabalho.

O ponto forte des­­­sa substância desenvolvida na Europa é incentivar a imunidade por diversas vias. Enquanto algumas vacinas aumentam a produção de anticorpos contra o próprio vírus, outras melhoram o desempenho dos linfócitos (agentes que atacam as células infectadas). Nos testes da Espanha, além de as duas vias terem sido estimuladas, houve uma melhora notável na ação dos linfócitos. Na opinião do infectologista Esper Kallas, da Universidade de São Paulo, é uma estratégia promissora. “Antes de chegar a u­ma conclusão, porém, será necessário testá-la em grande número de pessoas infectadas e também com voluntários saudáveis.” Kallas coordena estudos com outra vacina em parceria com cientistas americanos, peruanos e suíços.

Apesar de animadores, os resultados desse trabalho estão sendo recebidos com cautela. “É muito cedo para comemorar qualquer coisa. Foi estudo pequeno, que está em sua fase inicial”, diz o infectologista David Uip, diretor do Instituto Emílio Ribas, referência latino-americana em doenças infectocontagiosas. De fato, na etapa atual, o efeito da vacina foi avaliado em amostras de sangue dos voluntários expostas ao vírus no laboratório. “Resta saber como o sistema imunológico reagirá quando a pessoa vacinada estiver em contato com o vírus”, esclarece o infectologista Davi Levy, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Até o momento, todos os estudos com vacinas contra a Aids fracassaram.

O imunizante em foco possui ainda uma característica que pode limitar, a princípio, a sua utilização em larga escala. “Ele combate apenas o subtipo B do vírus, que prevalece nos Estados Unidos, nas Américas e na Europa”, diz o médico Artur Timerman, do Hospital Dante Pazzanese, em São Paulo. Há outros 14 subtipos conhecidos do HIV. 

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