O presidente da Fiesp diz ter garantias do presidente da Câmara de que nenhuma nova contribuição será votada, mas adianta que está preparado para reagir se o pacto for quebrado

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AÇÃO
A mais recente campanha liderada por Skaf é para reduzir os custos da energia

Aos 56 anos, Paulo Skaf assumiu pela terceira vez consecutiva a presidência da Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Na manhã seguinte à posse solene, para a qual mais de duas mil pessoas compareceram ao Theatro Municipal, no centro paulistano, Skaf estava radiante. Na véspera, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), respondera às suas críticas sobre a possível criação de um imposto para a saúde. E garantiu que nenhuma nova contribuição será aprovada durante a sua gestão na Casa. “A nossa carga já é muito alta”, disse Skaf. “Para sermos competitivos, temos de reduzir os impostos, os juros e o custo da energia”, prega. Com mandato na Fiesp até 2015, Skaf trabalha com um conceito de competitividade que engloba investimentos em educação, saúde, cultura e esportes. Não por acaso, a atuação à frente da federação que representa 135 mil empresas acabou conduzindo-o à política partidária. Candidato derrotado ao governo de São Paulo em 2010, Skaf diz não fazer planos para novas disputas políticas, mas deixa a porta aberta para futuras candidaturas ao dizer que adora uma responsabilidade: “Se no meu destino estiver reservado ser governador de São Paulo ou presidente da República, vou me realizar muito.”

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"A Fiesp não foi consultada sobre o aumento do IPI dos
carros importados. Se fosse, o governo ouviria que é melhor
estimular as indústrias brasileiras reduzindo seus custos"

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"Quando saí do PSB e ingressei no PMDB, Michel Temer não
assumiu nenhum compromisso comigo. A política são circunstâncias"

ISTOÉ

O sr. já está há mais de sete anos à frente da Fiesp. Ainda há muito o que fazer na entidade?
 

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Paulo Skaf

Tudo o que nós pretendíamos, conseguimos realizar. Quando falo nós, eu me refiro aos meus companheiros diretores, conselheiros, presidentes de sindicatos. Nós trouxemos todo mundo para a Fiesp, do microempresário aos grandes grupos. Também ampliamos muito para as pessoas de fora. Trouxemos para os nossos conselhos talentos do Judiciário, do clero, das Forças Armadas, do meio político, profissionais liberais, ex-ministros e ex-embaixadores. São seis mil voluntários em todo o Estado de São Paulo. Abrimos a Fiesp. Não para olhar para dentro e sim para fora.
 

ISTOÉ

E qual foi o impacto dessa iniciativa na sociedade?
 

Paulo Skaf

A Fiesp passou a ser vista como defensora de bandeiras que interessam ao País. Um exemplo foi o fim da CPMF, em 2007. Nós entendíamos que, em 12 anos, aquela contribuição não cumpriu papel nenhum e a renovação serviria apenas para aumentar o saco de arrecadação do governo. Fizemos um movimento forte, conseguimos sensibilizar o Senado e acabar com a CPMF. 

ISTOÉ

Agora existe um movimento para a volta de um imposto similar.
 

Paulo Skaf

Não haverá nenhum novo imposto. E, se houver, nós vamos reagir fortemente. Estamos tranquilos. Ainda na posse, o presidente da Câmara (Marco Maia – PT-SP) garantiu diante de mais de duas mil pessoas que a Casa não vai votar nem aprovar nenhuma nova contribuição. A nossa carga já é muito alta. Para sermos competitivos, temos de reduzir os impostos, os juros, o custo da energia. Aliás, estamos com uma grande campanha pela energia a preço justo.
 

ISTOÉ


Essa é uma das bandeiras do novo mandato?
 

Paulo Skaf

A grande bandeira é a competitividade do País. E vamos trabalhar a energia. Todo mundo paga uma conta de luz. E a energia está no custo de tudo. Então, nós temos de reduzir o custo da energia. O Brasil tem 77% de sua matriz energética na hidroeletricidade, que é a forma mais barata do mundo de se produzir energia. E o País tem a terceira conta de energia mais cara do mundo. Há uma distorção. Agora há uma oportunidade de mudar isso, com o vencimento dos contratos de concessão. Quando vencerem, a lei determina que o patrimônio deve voltar à União para se promover um novo leilão. Como a hidrelétrica já está construída, não há necessidade de investimento de grande custo. Quem entrar no leilão só vai ter a preocupação de operar e manter. 

ISTOÉ

Quando vencem esses contratos?
 

Paulo Skaf

Grande parte em 2015, mas passa muito rápido. Temos três anos. Este é o momento da decisão sobre os leilões de 28% da geração de toda a energia do País, 80% da transmissão e 40% da distribuição. O que vale para a geração, sobre o custo da hidrelétrica, também vale para a transmissão e a distribuição porque as redes estão prontas.
 

ISTOÉ

Isso só para a indústria?
 

Paulo Skaf

É para todo mundo. No momento em que você reduz o preço da geração, da transmissão e da distribuição, pode diminuir 20% da conta de luz de toda a população brasileira. E o custo da energia é competitividade.
 

ISTOÉ


O que mais é competitividade? 

Paulo Skaf

Não se tem um país competitivo se o povo não tiver boa saúde, boa educação, formação profissional e segurança jurídica. E, mais do que reclamar da educação, nós fizemos uma revolução no Sesi e no Senai em São Paulo. Implantamos o tempo integral no ensino fundamental. Criamos o ensino médio, que pode ser feito simultaneamente com o curso técnico e é gratuito em São Paulo. É o único Estado em que é gratuito. Temos ainda 14 faculdades de tecnologia. Entre o primeiro mandato e os próximos dois anos, teremos ampliado 1,2 milhão de metros quadrados em construção de escolas. Compramos 22 mil computadores. Tudo ultramoderno. Na área da cultura, por nossas atividades, teatros, cinemas e exposições passam três milhões de pessoas por ano. Tudo isso ajuda a aumentar a competitividade do Brasil.
 

ISTOÉ

Aumentar o IPI dos carros importados foi um erro? 

Paulo Skaf

 Pessoalmente, não aplaudi tanto. Se o governo quer estimular a indústria brasileira, deve desonerar a produção, deve fazer com que os custos de energia, de impostos, de logística, de juros sejam baixos para que ela seja competitiva. Encaro o aumento do IPI como uma medida emergencial, num momento em que nós estávamos com uma sobrevalorização do real. A Fiesp não foi consultada nem participou dessa medida. Se fosse consultada, o governo ouviria que é melhor estimular as indústrias brasileiras reduzindo seus custos.

ISTOÉ

Está faltando diálogo entre o governo federal e o empresariado?
 

Paulo Skaf

Eu diria que um pouco sim. Medidas pontuais vêm sendo tomadas repentinamente. Faltam mais serenidade e mais transparência em discutir medidas que tragam resultados concretos e horizontais. Um exemplo é o IPI do automóvel. Eu só aceito como medida emergencial. Mas vamos ficar sempre no emergencial? Por que nós não sentamos e realmente tomamos providências profundas, recuperando a competitividade do Brasil?
 

ISTOÉ

O sr. está começando o terceiro e último mandato à frente da Fiesp. Quais os planos para o futuro?
 

Paulo Skaf

O terceiro mandato vai até 2015. Depois, vou tocar a minha vida empresarial e familiar. Minha mulher cobra muito a minha presença. Tenho cinco filhos e dois netos.  

ISTOÉ

E os planos políticos? 

Paulo Skaf

Muita gente critica político, mas não tem jeito. Para melhorar a política e o nível dos políticos, é preciso entrar gente com boa intenção. É preciso renovar.
 

ISTOÉ

O sr. pretende se candidatar no ano que vem ou em 2014? 

Paulo Skaf

É difícil fazer previsões. A política muda todos os dias. É muito cedo você definir coisas para o ano que vem e muito menos para 2014. Agora eu estou num partido, o PMDB, que escreveu muitas linhas da democracia brasileira. O que o presidente nacional do PMDB (o senador por Rondônia Valdir Raupp), o que o vice-presidente, Michel Temer, e várias lideranças vêm pregando é uma candidatura do partido ao governo de São Paulo em 2014. Quando pregam a candidatura própria, eles sempre associam esse projeto ao meu nome.
 

ISTOÉ

O que o sr. acha da ideia?
 

Paulo Skaf

Acho uma ideia muita boa. Eu teria muita honra de ser governador de São Paulo. Não tem a menor dúvida. O meu trabalho na Fiesp é voluntário, mas falar que não recebo nada é injusto. Tenho um grande pagamento, que é a satisfação de sentir que estou fazendo bem às pessoas. Se em nossas entidades posso fazer muito, como governador de São Paulo poderei fazer muito mais. Agora a política é muito dinâmica. E eu não tenho nenhuma ansiedade. Se no meu destino estiver reservado ser governador de São Paulo, ser presidente da República, vou me realizar muito. Se o meu trabalho estiver terminando com o legado que estou deixando na Fiesp, vou me sentir realizado também. Agora, se no meu destino estiver reservada uma responsabilidade maior, eu adoro responsabilidades.
 

ISTOÉ

Como a entrada do deputado Gabriel Chalita no PMDB, no meio do ano, alterou os seus planos?
 

Paulo Skaf

Não alterou em nada. Aliás, em 2009, foi a primeira vez que eu me filiei a um partido político. Até os 54 anos de idade, nunca tinha me filiado a nenhuma legenda. Quando resolvi fazer isso, havia decidido me filiar ao PMDB. Por circunstâncias da época, não foi possível. Fui para o PSB, que me recebeu muito bem, saí candidato a governador de São Paulo mesmo com pouquíssimo tempo de rádio e tevê. São Paulo tem 30 milhões de eleitores. Sem a ferramenta do rádio, da televisão, da imprensa, é muito difícil você conversar com 30 milhões de pessoas. Então, foi muito restrito, mas foi um bom começo.
 

ISTOÉ

Qual a principal lição da campanha?
 

Paulo Skaf

Tive efetivamente um milhão e tantos mil votos. A intenção de voto estava em dois milhões, mas depois veio a questão do voto útil. Adorei fazer a campanha. Não tem coisa mais gostosa do que uma campanha política. Conheci muitas pessoas, conheci melhor meu Estado e os desafios que precisam ser enfrentados. Mas não fico com ansiedade. Deixo que as coisas aconteçam naturalmente. Em maio, quando saí do PSB e ingressei no PMDB, Michel Temer não assumiu nenhum compromisso comigo. A política é feita de circunstâncias. Um bom candidato é o candidato que na circunstância e no momento certos tem as melhores condições de ganhar a eleição. Até 2014 muita água vai rolar.
 

ISTOÉ

Voltando à campanha para o governo do Estado, o sr. chegou a ser criticado por associados da Fiesp pelo uso político das realizações de sua gestão à frente da entidade. Como o sr. vê isso?
 

Paulo Skaf

O que nós temos de fato é uma reeleição com quase 99% dos votos. Durante os quatro meses em que estive em campanha, me licenciei e não voltei à Fiesp naquele período. Só faltava eu ter de esconder aquilo que é a minha vida, o meu trabalho. Em 2007, durante o episódio da CPMF, eu nem pensava em ter filiação política.
 

ISTOÉ

Na sua opinião, qual o impacto da crise internacional para a indústria brasileira?
 

Paulo Skaf

A verdade é que entre um dólar de R$ 1,50 e um dólar de R$ 1,80, o dólar a R$ 1,80 vai mais ao encontro do interesse brasileiro. O País precisa de um câmbio equilibrado, sem volatilidade. Se tiver um dia R$ 1,80, no outro R$ 1,90 e no outro dia R$ 1,70 é a pior coisa do mundo. Quanto à situação mundial, vamos encarar como se houvesse muitos vírus soltos. A situação na Europa é grave. Se virar uma epidemia, quanto mais resistentes e fortes nós estivermos, melhor resistiremos a uma epidemia. Não temos como interferir na Europa, mas temos como aumentar a nossa resistência, fazendo a nossa lição de casa. 


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