Em nome dos artistas – Arte contemporânea norte-americana na Coleção Astrup Fearnley/ Fundação Bienal de São Paulo, SP/ até 4/12

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POP BRITÂNICO
“Mother and Child Divided”, de Damien Hirst, figura na mostra por sua ligação com a arte americana

Habituados que estamos às irregularidades e aos sobressaltos entre as obras das bienais de São Paulo, torna-se surpreendentemente tranquilo caminhar pelas arejadas salas dedicadas a Matthew Barney, Jeff Koons, Cindy Sherman, Doug Aitken, Felix Gonzalez-Torres, Nan Goldin, Richard Prince – entre outros artistas icônicos norte-americanos dos anos 80 e 90 – no terceiro andar da exposição “Em Nome dos Artistas – Arte Contemporânea Norte-Americana na Coleção Astrup Fearnley”. Programada em comemoração aos 60 anos da Bienal de São Paulo, a mostra expõe um recorte de 219 obras do acervo do museu norueguês. A escolha do curador Gunnar Kvaran, diretor da instituição, se deu sobre 50 artistas norte-americanos ativos entre 1980 e 2010 e mais uma “concessão poética”: uma coleção de obras do artista britânico Damien Hirst de tirar o fôlego.

A exposição está dividida em três “capítulos”. A introdução – triunfal – fica por conta do britânico Hirst, que foi tachado de sensacionalista depois de incendiar a arte e a opinião pública nos anos 90 com seus animais dissecados e conservados em tanques de formol. “Decidimos trazer Hirst porque ele tem uma posição especial na coleção”, afirma o curador Kvaran. “Em 1993, quando ele surgiu, fomos provavelmente a primeira instituição europeia a adquirir suas obras.” Por esse motivo, a coleção Astrup Fearnley tem uma boa representatividade de seu trabalho e, assim, torna-se possível ao público compreender a trajetória e as motivações escatológicas desse artista controvertido. “Além do mais, há um link entre Hirst e a nova geração norte-americana”, sugere Kvaran.

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ALTARES
Instalação de Jeff Koons de 1981 cria uma vitrine para a vida doméstica americana

O link fica evidente no terceiro andar do Pavilhão da Bienal, onde o curador instalou o capítulo dos grandes nomes dos últimos 30 anos. Se Hirst colocou animais em aquários nos anos 1990, o norte-americano Jeff Koons começou a instalar ícones da vida americana dentro de vitrines já no início dos anos 1980. Em “Three Ball Total Equilibrium Tank” (1985), ele coloca três bolas de basquete em um aquário e antes disso, em 1981, criou um tanque de luz fluorescente para os aspiradores Hoover e as enceradeiras Shelton. Com clara influência das sopas Campbell’s de Andy Warhol, os altares domésticos de Koons são bem anteriores à série que fez dele o grande artista pop depois de Warhol e antes de Hirst: “Made in Heaven” (1991), em que se autorretrata em cenas de sexo tórrido com a atriz pornô italiana Cicciolina, com quem foi casado entre 1991 e 1992. Em uma sala proibida para menores, há duas fotografias do love de Koons com Cicciolina.

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COWBOYS
Em 1980, Richard Prince refotografou a campanha do cigarro
Marlboro. A imagem foi vendida por mais de US$ 1 milhão em leilão

O roteiro da arte produzida na terra do Marlboro continua no segundo andar, onde Kvaran optou por instalar a nova geração, ainda não consolidada – embora o suficiente para ser introduzida em grandes coleções, como a do colecionador Hans Rasmus Astrup, que está entre os 200 maiores do mundo. No segmento “young americans” há muito mais experimentalismo – o que faz desse andar um espaço mais parecido ao das bienais – e gratas revelações, como Paul Chan, com sua magnífica instalação luminosa “The Seven Lights”, dividida em sete salas.