Nos programas de Chico Anísio dos anos 70, Dorinha Duval encarnava a Nega Brechó. Em Vovô Deville, musical apresentado pela extinta TV Excelsior na década de 60, ela era a estrela do quadro Os bonequinhos. Já vinha da fama como corista, carreira iniciada em 1945, quando tornou-se a Dorah Morena de pernas esculturais, depois Dorah Maraca. Bem mais tarde, vestiu a pele da Cuca no Sítio do Picapau Amarelo até 1980. Depois da noite de 5 de outubro do mesmo ano, no entanto, a paulistana Dorah Teixeira se transformou numa mulher marcada nas páginas policiais. Após uma discussão, descarregou um revólver calibre 32 em seu companheiro Paulo Alcântara, um
corretor de imóveis e jogador compulsivo, 15 anos mais novo que ela.
O caso ficou esquecido, mas a atriz não se conformou em sair daquela maneira da vida artística e agora traz a sua versão para os fatos na autobiografia Em busca da luz: memórias de Dorinha Duval (Record,
288 págs. R$ 30), com depoimento ao jornalista Luiz Carlos Maciel
e à publicitária Maria Luiza Ocampo.

Dorinha, hoje uma escultora, cumpriu seis anos de pena. Considera-se perdoada porque à época dizia estar transtornada. Agora, se sente renascida integrando a seita Ordem Mística da Aspiração Universal ao Mestrado. Para a atriz, a autobiografia é uma espécie de acerto de contas. Ao público em geral, a primeira parte deve ser lida como uma coleção de saborosas histórias de bastidores, um panorama do teatro de revista e da televisão, dos primórdios à ascensão da Globo. A segunda pode ser interpretada como um livro de auto-ajuda, um breviário da fé abraçada por Dorinha, que na cidade mineira de Poços de Caldas conheceu o diretor e ator Daniel Filho, com quem mais tarde se casaria e teria a filha Carla Daniel, também atriz. A curiosidade é que Daniel passeava com a mãe… num carrinho de bebê!