Durante sua curta e meteórica carreira política, a colombiana Ingrid Betancourt, 40 anos, se caracterizou pela controvérsia, pela rebeldia e por sua incrível capacidade de autopromoção. Em 1994, quando se candidatou a deputada pelo Partido Liberal, ela distribuiu camisinhas com o slogan: “A melhor maneira para nos preservar da corrupção.” Já eleita, transformou-se na mais virulenta crítica no Congresso do então presidente Ernesto Samper, também do Partido Liberal, acusado de receber dinheiro do narcotráfico para sua campanha. Em 1996, para exigir que a comissão parlamentar que investigava o presidente incluísse congressistas independentes, Ingrid e outro deputado ficaram duas semanas em greve de fome. Em 1998 foi eleita senadora pela sigla ecológica independente Oxigênio com a maior votação do país, 150 mil votos. Há poucos meses, renunciou à cadeira para se candidatar à Presidência da Colômbia classificando o Congresso como “um ninho de ratos”. Na atual campanha, distribuía pílulas de Viagra para “revigorar o país”. Agora, com menos de 1% das intenções de votos, uma circunstância até certo ponto alheia à sua vontade fez com que os holofotes se voltassem novamente para sua trajetória: na tarde de sábado 23, a candidata foi sequestrada por guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) junto com sua chefe de campanha, Clara Rojas, e outros três jornalistas, estes libertados em seguida. O governo da Colômbia, que há dez dias rompeu as negociações de paz com as Farc iniciadas há três anos e vem atacando a área antes destinada à guerrilha, rejeitou o prazo de um ano dado pelos insurgentes para trocar guerrilheiros presos por Ingrid, pelo senador liberal Jorge Eduardo Gechen Turbay, e dezenas de outros reféns em poder dos rebeldes.

Anti-establishment – Filha do ex-ministro da Educação Gabriel Betancourt Mejía e da ex-deputada liberal Yolanda Pulecio, Ingrid estudou ciências políticas em Paris e começou sua carreira como assessora econômica do presidente César Gaviria (1990-1994). Ela fez da denúncia da corrupção e do envolvimento do establishment político da Colômbia com o narcotráfico o mote de sua carreira, granjeando não poucos inimigos. Em seu livro La rabia en el corazón (traduzido no Brasil como Coração enfurecido, pela Objetiva), ela retoma as acusações contra o ex-presidente Samper, de que ele teria recebido dinheiro do cartel de Cali para sua campanha presidencial. Segundo a ex-senadora, o cartel de Cali também teria ajudado o governo anterior, de César Gaviria, a matar em 1993 o temido capo Pablo Escobar, do rival cartel de Medellín.

No dia 13 de fevereiro, a candidata chegou a participar de uma audiência pública com os dirigentes das Farc na chamada “Farclândia” – a área de 42 mil quilômetros quadrados no sul do país cedida pelo governo à guerrilha para servir de base às conversações. Na ocasião, ela acusou os rebeldes de serem “narcoguerrilheiros”. Depois do sequestro da candidata, as tropas do governo avançavam para tomar o controle da Farclândia e os rebeldes atacavam torres de telecomunicações, de energia elétrica e pontes e ameaçavam levar a guerra às cidades, inclusive à capital, Bogotá. O governo afirmou que vai manter o calendário eleitoral – a eleição presidencial está prevista para 26 de maio. Já os desafetos de Ingrid certamente dirão que sua captura é mais uma jogada de marketing pessoal.