A lista do supermercado está ganhando um saboroso item. Junto com o iogurte, o arroz e feijão, os artigos de limpeza e os milhares de produtos que se oferecem nas gôndolas, o cliente pode levar para casa a melhor das guloseimas: uma passagem de avião para Salvador, Florianópolis, Recife, Vitória, Belém… A Gol, mais nova companhia aérea do País, com um ano de operação, está aproveitando o vigor juvenil para arriscar e ousar. Sua mais recente “travessura”
é a venda de passagens em quiosques instalados dentro da rede de hipermercados Extra, do grupo Pão de Açúcar. O primeiro quiosque está funcionando na loja de Congonhas, perto do aeroporto de São Paulo. O próximo, a ser aberto em março, será no Itaim, e o terceiro, no shopping Santa Cruz, perto da avenida Paulista. Se esses três derem certo, os quiosques vão se espalhar, inclusive pelas outras bandeiras do grupo Pão de Açúcar e por outros shopping centers.

Para a Gol, é uma esperta jogada de ataque no atordoado mercado da aviação aérea. “Reforça a marca, mostra modernidade, desperta a curiosidade e, por fim, vende passagens”, diz Wilson Maciel Ramos, vice-presidente de gestão e tecnologia da empresa. É uma estratégia de marketing que tem atraído uma média de 70 pessoas por dia para o primeiro quiosque. Para o Extra significa a ampliação diferenciada dos serviços que já oferece nas lojas, como floricultura, chaveiro, sapateiro, caixa eletrônico. O passageiro, por sua vez, ganha um afago: é mais cômodo, não tem fila, sobram vagas no estacionamento. Para aqueles que acalentam a viagem de avião como um sonho, a Gol oferece, no quiosque, seu cardápio de promoções: passagens em média 20% a 30% mais baratas, financiamento em 12 meses pelo banco Panamericano a juros de 3,10% ou quatro vezes sem juros no cartão de crédito.

A empresa quer convencer a classe C de que viajar de avião não é coisa de rico. O vice-presidente Tarcísio Gargioni diz que a companhia pretende transportar neste ano 300 mil marinheiros de primeira viagem, volume que representa 6% do total de cinco milhões de passageiros que a empresa quer colocar em seus aviões em 2002, 127% a mais do que no ano passado. Cinco milhões? Se a Varig, fundada em 1927, transporta cerca de 11,4 milhões de passageiros por ano, como é que uma caloura com pouco mais de um ano no setor pode ambicionar atingir pouco menos da metade de seus números?

A resposta da empresa: com os preços mais baixos do setor, qualidade de atendimento, uma frota duplicada para 20 aviões, a autorização
do Departamento de Aviação Civil (DAC) para voar na ponte aérea Rio–São Paulo e inovações inusitadas como a integração avião-ônibus que vai oferecer viagens para cidades próximas ao aeroporto de Campinas, em São Paulo.

Os concorrentes ficam de cabelo em pé com a ousadia do jovem Constantino de Oliveira Júnior, 33 anos, que comanda a empresa com seus três irmãos, Henrique, Ricardo e Joaquim, e capital próprio, o que é uma raridade. O caixa saiu do grupo Áurea, familiar, que atua no setor de transportes urbanos e rodoviários e é administrado pelo pai dos “meninos”, sr. Constantino, conhecido por Nenê. Os “meninos” estão arrasando. Querem fazer todo mundo voar, mas não tiram os pés do chão. Em janeiro de 2002, a Gol passou a Rio-Sul, empresa do grupo Varig, e conquistou o quarto lugar do ranking do setor.