Quem pôde observar o céu na noite da quarta-feira 27 se deparou com a mais brilhante lua cheia do ano. O fenômeno astronômico aconteceu porque o satélite está no ponto mais próximo da terra em sua órbita e reflete com mais intensidade os raios solares. Astrólogos mais afoitos diriam que está aí a explicação para a enxurrada de boas notícias econômicas que antecederam o espetáculo lunar, na tarde do mesmo dia.

Primeiro foi o presidente do Banco Central americano (o FED), Alan Greenspan, que veio a público dizer que a recessão americana está
para acabar, se é que já não acabou. “Nos últimos meses surgiram crescentes sinais de que algumas das forças que contiveram a economia no ano passado estão começando a diminuir e de que a atividade está começando a firmar-se”, disse o presidente do Fed. A frase do sempre enigmático Greenspan soou como música aos ouvidos da comunidade financeira internacional, atolada há seis meses com notícias do front
e da Enron.

A lua também brilhou forte no Brasil, que acabou sendo elogiado,
de passagem, por Greenspan. “A economia brasileira está indo relativamente bem, apesar da crise argentina”, soprou o chefão
do Federal Reserve. Talvez contaminado pelo efeito da dobradinha lua cheia-eleições, o ministro da Fazenda Pedro Malan fez sua parte e soltou a frase mágica: “Os juros precisam baixar, e vão baixar.” Uma semana antes, exatamente no dia anterior ao lançamento da candidatura de José Serra ao governo, o Comitê de Política Monetária (Copom) havia realizado um quase insignificante corte na taxa básica, após sete meses de paralisia. A queda, de 19% para 18,75%, trouxe pouquíssimo efeito à economia real, mas sinalizou uma tendência confirmada por Malan na quarta-feira enluarada.

Com uma diferença de poucas horas, outra “bomba” positiva estourou nos terminais de notícias dos operadores do mercado financeiro. A agência de avaliação de risco Moody’s elevou a classificação dos títulos brasileiros de “estável” para “positivo”. “A perspectiva é baseada na resistência crescente do Brasil a choques e ao contágio regional”, afirmou o vice-presidente da agência, Ernesto Martinez-Alaz, que aproveitou a deixa e elogiou o desempenho de Malan e sua equipe. Segundo ele, há um “impacto benéfico de vários anos de progresso na solidificação dos ganhos do ajuste fiscal e da disciplina em todos os níveis de governo.” O mercado adorou e engatou uma alta que há muito não se via – o embalo se deu também após a divulgação de índices de inflação abaixo do esperado. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou seu maior salto desde 7 de janeiro e voltou a romper a barreira dos 14 mil pontos – o maior patamar desde o início do ano. Em 2002, o ganho para os investidores acumula 4,6%. O mercado de câmbio também agradeceu a benevolência e jogou o dólar para R$ 2,357, o menor valor desde 6 de janeiro. A queda, no dia, foi de 1,58%, também creditada a mudanças técnicas promovidas pelo Banco Central na negociação de títulos cambiais.

A Moody’s é uma firma americana que avalia a capacidade das empresas e dos países de honrarem seus compromissos. A comunidade financeira baseia suas decisões de concessão de crédito e investimentos em indicadores como os produzidos pela empresa. A notícia levou um operador a dizer que o Brasil está “virando a Suíça”, numa referência
à solidez do sistema financeiro de lá. Mas é bom lembrar que a Moody’s
e suas concorrentes sempre são duramente criticadas quando a
avaliação brasileira recua. As críticas, em geral, batem na tecla do desconhecimento da realidade econômica brasileira para a realização
de uma avaliação precisa. Na quarta-feira da lua cheia, não se ouviu crítica alguma sobre a capacidade de avaliação dos americanos. Pelo contrário. Além dos efeitos positivos no mercado local, o anúncio
fez o risco-país recuar mais de 2% e voltar a um nível não atingido
desde abril do ano passado.

Já com as Bolsas fechadas e sob a luz do luar do Planalto Central, os deputados encerraram a maré lunar de boas notícias da quarta-feira. Por 336 votos a favor e 114 contra, eles aprovaram a isenção da CPMF para operações na Bolsa de Valores – uma antiga demanda do mercado financeiro. A incidência do famigerado 0,38% sobre as operações praticamente inviabiliza o ingresso de novos investidores. Para começar a valer, a medida precisa ainda passar pelo segundo turno da Câmara e ser colocada duas vezes em votação no Senado.

A safra de boas novas, longe de ser um fenômeno astronômico, tem seus fundamentos. Só não é possível prever por quanto tempo vai durar a euforia. Nem adivinhar se a chamada economia real vai transformar os bons fluidos em crescimento econômico. Mas superar o medíocre 1,51% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados divulgados na quinta-feira 28 pelo IBGE, em 2001 não parece ser, hoje, missão das mais complicadas. Já a lua encerra seu ciclo mais brilhante do ano nesta segunda-feira.