O aniversário de 35 anos da IstoÉ representa ocasião para refletirmos sobre as profundas transformações vividas pelo Brasil nesse período, que deu um verdadeiro salto em termos econômicos, políticos e sociais.
Deixamos de ser um país subdesenvolvido e endividado e passamos a integrar o seleto grupo das economias emergentes dinâmicas, que responderão pela maior parte do crescimento mundial nas próximas décadas. Deixamos, ademais, de ostentar uma população majoritariamente pobre e passamos a constituir uma sociedade com mais de 50% de sua população de classe média, empreendedora e consumidora – ainda que o desafio de combater a pobreza permaneça prioritário. Deixamos para trás, por fim, o espectro do autoritarismo e passamos a exercer nossos direitos numa democracia simultaneamente jovem e madura, com pleno sentido de participação e representação política.

Há três décadas, o Brasil atuava como coadjuvante no cenário internacional. Nas importantes reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou do G-7, estávamos ausente ou sentados na terceira fila. Agora somos protagonistas das grandes decisões mundiais. O Brasil era um País economicamente vulnerável na maior parte dos anos setenta e oitenta, com reservas internacionais de menos de US$ 10 bilhões, que chegaram a zero em 1987, e afundado em dívidas com os países ricos e os organismos internacionais. Éramos um país muito distante da imagem de solidez e respeitabilidade que hoje nos caracteriza. O protagonismo do Brasil no G20 – o mais importante fórum de coordenação econômica global – é exemplo da nova circunstância.

O Brasil é hoje a sétima maior economia do mundo e, de acordo com as projeções do Fundo Monetário Internacional, passará para a quinta posição em 2016. Esse desempenho da economia brasileira ancora-se no dinamismo de sua sociedade e na solidez de seus fundamentos. Quem poderia dizer, há dez anos, que o Brasil gozaria de uma das situações fiscais mais sólidas do mundo? A combinação simultânea de rápido crescimento, baixa inflação e resultado confortável nas contas externas é inédita em nossa história e demonstra a sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro.

De maneira ainda mais notável, o Brasil passou a conciliar, na última década, crescimento econômico e distribuição da renda. De acordo com estudos do pesquisador Marcelo Neri, a renda dos 50% mais pobres aumentou, na década de 2000, em 68%, enquanto que a dos 10% mais ricos cresceu 10%, apenas. Dos BRICS, o Brasil é o único que desconcentra sua riqueza e aumenta mais rapidamente as oportunidades para os mais pobres.

Ficou para trás o tempo em que “a economia vai bem, mas o povo vai mal”. Hoje, a economia e o povo vão bem – de forma indissociável, aliás, pois o mercado de consumo de massa, proporcionado pela distribuição da renda e da riqueza, é um dos pilares da nova economia brasileira. O ano passado, apesar das conseqüências da crise internacional, crescemos 7,5% e geramos mais de 2,5 milhões de empregos formais. Isso permitiu, registre-se, a inserção de milhões de brasileiros no mercado consumidor, não por obra do acaso, mas sim por políticas deliberadas de valorização do salário mínimo, de programas de transferência de renda e de formalização.

Aos poucos, o brasileiro recuperou sua auto-estima e a confiança no futuro. Lembro-me dos tempos em que a população tinha receio de tomar crédito ou de fazer negócios de prazo mais longo, reprimindo a natureza empreendedora que nos caracteriza. Hoje, já temos crédito para habitação com até 30 anos de prazo.

Isso não significa que tudo está resolvido. Longe disso, ainda enfrentamos uma série de desafios na área econômica. Nosso complexo parque industrial, construído ao longo de muitas décadas, encontra-se hoje ameaçado pela concorrência predatória de países que manipulam suas taxas de câmbio e oferecem toda sorte de subsídios ilegítimos. A inovação e o desenvolvimento tecnológico ainda precisam se aprimorar, de modo a aumentar o valor agregado. A infraestrutura está recuperando o tempo perdido, de modo a viabilizar é precária o modelo de desenvolvimento almejado. O emprego cresceu tanto que falta mão-de-obra qualificada em diversos setores.

Observe-se, porém, que são todos desafios de longo prazo, colocados pelo próprio processo de desenvolvimento, comum a qualquer economia emergente. Deixamos para trás o espectro da urgência do curto prazo: os debates sobre inflação, dívida externa, déficit fiscal, crises de balanços de pagamentos, a humilhação imposta pelo FMI e os credores externos. O Brasil, hoje, permite-se debater os problemas das futuras gerações. E temos os meios e as ferramentas de superá-los, finalmente livres de antigos complexos e fantasmas.