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PIONEIRO
Claus Funke na escada que leva ao primeiro subsolo do bunker

No meio de um bosque, nas imediações da pequena cidade de Tessin, no norte da Alemanha, acaba de ser aberto um dos segredos mais bem guardados da Guerra Fria, a disputa estratégica travada entre americanos e russos do fim da Segunda Guerra Mundial (1945) até a extinção da União Soviética (1991). Trata-se de um bunker de três mil metros quadrados e dois andares subterrâneos projetado para sediar o comando das operações navais da antiga Alemanha Oriental assim que eclodisse uma guerra nuclear. Com capacidade para 300 militares, o abrigo se localiza a cerca de 30 quilômetros da parte do Mar Báltico onde ficava estacionada a frota do país, alvo potencial de ataque em caso de eclosão de um conflito atômico mundial. Construído entre 1969 e 1970, o complexo foi mantido pronto para uso por uma equipe permanente de 69 homens até o final de 1990, quando ocorreu a reunificação da Alemanha. “Ele está totalmente original”, diz o alemão Claus Funke, 64 anos, responsável pela abertura do bunker. “Nada foi mudado, adicionado ou removido.”

Especialista nesse tipo de construção, Funke manteve no lugar até as rosas vermelhas de plástico que enfeitavam a central de comunicação, que fora montada com tecnologia de ponta numa época em que a telefonia do resto do país era precária (leia quadro na pág. 112). A abertura do bunker, porém, não foi um processo fácil. A entrada do complexo, camuflada entre árvores, havia sido vedada com concreto pelo Exército da Alemanha reunificada em 1993. Catorze anos depois, toda a área foi vendida para um empresário interessado apenas em cultivar a terra. Funke, por sua vez, arrendou o bunker desse empresário, com a intenção de abri-lo ao público por três meses, durante o verão europeu. Passou 26 dias quebrando concreto até acessar a entrada do abrigo e chegar aos primeiros degraus de uma escadaria que desce 12 metros abaixo do nível do solo. Na empreitada de reabertura, Funke contou com a ajuda de profissionais que prestaram serviço no abrigo e, nos tempos da Guerra Fria, não puderam contar nem à família o que faziam ou onde trabalhavam.

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TÚNEL DO TEMPO
Visitantes entram no complexo, que está mantido nas condições originais

No final da escadaria, eles precisaram abrir uma sequência de cinco espessas portas de aço para entrar no primeiro subsolo do complexo, que é todo compartimentado. Nele estão as peças fundamentais para a atividade militar, como as salas de comando e de comunicação. No subsolo inferior fica a maior parte dos equipamentos que permitiriam o funcionamento autônomo do bunker, como reservatórios de ar e geradores de energia. No complexo eles encontraram intactos todos os planos de resgate dos comandantes militares, para que assumissem seus postos no bunker assim que eclodisse um conflito nuclear.

Entre os documentos encontrados por Funke e sua equipe também está o projeto de expansão do abrigo, com obras previstas para o período 1990-1994. A reunificação da Alemanha e o fim da Guerra Fria reduziram os papéis a registros do passado. “Essa é uma parte importante da história da Alemanha”, afirma Funke, ao justificar sua iniciativa de trazer à tona essa herança da Guerra Fria. “Na antiga Alemanha Oriental existem apenas quatro bunkers antiatômicos. Um virou museu, o outro está em ruínas e o terceiro foi lacrado e jamais reaberto.” No final de outubro, quando acaba o arrendamento feito por Funke, o bunker de Tessin será fechado de novo. Seu destino, por enquanto, é uma incógnita.

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