chamada.jpg
PREJUÍZO
Ocean Beach, em San Francisco, deve mudar radicalmente até 2100

A cena de uma salva-vidas loira, vestindo um maiô apertado e saltando em meio às ondas, será impossível de ser reeditada em 2100. Símbolo da série “Baywatch” (“SOS Malibu”, no Brasil), a imagem da personagem vivida por Pamela Anderson se tornaria inviável no cenário traçado por um estudo encomendado pelo governo da Califórnia (EUA).
Segundo a pesquisa, algumas das praias mais badaladas do Estado americano – Malibu, inclusive – sofrerão prejuízos milionários com o aumento do nível dos mares há muito previsto pelos cientistas.

 “Usamos os melhores dados científicos e econômicos disponíveis”, disse à ISTOÉ Philip King, economista da San Francisco State University e principal autor da pesquisa. O estudo é parte de um plano estadual, iniciado pelo ex-governador Arnold Schwarzenegger durante seu mandato, para avaliar o impacto causado pelo aumento do nível dos mares naquele Estado. Dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) e de outras pesquisas dão conta de que o aquecimento global pode fazer os mares subir mais de um metro em relação aos níveis atuais no decorrer deste século.

Isso acontece porque as mudanças climáticas aquecem os oceanos, causando um aumento na ocorrência de tempestades e danos decorrentes delas, além do derretimento do gelo nos polos. Além desses eventos extremos, a erosão provocada pela invasão da costa pelas águas do mar deve fazer com que as praias percam seu apelo turístico, além de prejudicar a vida selvagem local. “É necessária uma certa quantidade de espaço para as pessoas se divertirem e, à medida que as praias são atingidas pela erosão, diminui-se o tamanho delas e a quantidade de turistas”, diz King. Sua pesquisa teve como foco cinco comunidades costeiras e levou em conta cenários de elevação de um a dois metros no nível do mar. Um exemplo: Venice Beach, em Los Angeles, perderia mais de US$ 440 milhões decorrentes do turismo e do recolhimento de impostos se o Oceano Pacífico se elevasse em 1,4 metro até 2100 – cenário provável para os cientistas.

Já a erosão causada às praias de Zuma e Broad, na famosa Malibu, custaria em torno de US$ 500 milhões, contando apenas o gasto dos turistas e os impostos arrecadados. Estradas e casas também seriam afetadas. “O efeito de ressacas mais fortes e ondas mais altas poderia reverberar na economia local e do Estado”, diz o estudo. No Brasil, algumas instituições, como o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, e o Projeto Pro Marés fazem um acompanhamento do nível do mar no nosso litoral. Ainda não há, porém, um estudo dos impactos econômicos futuros como o realizado na Califórnia.

Um dos efeitos práticos da pesquisa americana é alertar a necessidade de se adaptar ao novo cenário. Os pesquisadores ressaltam para a necessidade de construção de muros de contenção, de reposição da areia perdida da praia e de reconstrução de casas e outros prédios longe da costa. Embora seja um problema ainda maior em outros lugares como o sul da Ásia, por causa das tempestades de Monções, a elevação do nível dos oceanos é crítica em todo o planeta. “Essas mudanças já estão em curso”, diz King. “Precisamos começar a nos planejar.” A mensagem não é apenas para Malibu, mas para o mundo todo. 

img.jpg