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Desvendar as camadas simbólicas do modernismo brasileiro é um dos objetivos da artista Ana Maria Tavares. Desde o fim da década de 1990 ela vem realizando uma série de trabalhos que envolvem cânones da arquitetura, como as construções de Oscar Niemeyer. Em seu mais recente trabalho, denominado “Desviantes (da série Hieróglifos Sociais)”, ela dá continuidade a sua investigação elegendo como “leitmotiv” o prédio da Oca, localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Aqui, ela cria uma série de painéis em metal e acrílico que intentam desconstruir a pureza formal e racionalista do edifício. É a partir de “Mesa Oca” (foto) que Ana desmonta esse edifício, mostrando seu interior por meio de uma perspectiva aérea simulada. “O desvio se dá quando esse projeto moderno de pureza e limpeza de formas é transformado em algo barroco, feito de sobreposições e desorganizações”, diz ela.

A maior distorção da estética modernista se dá na série de painéis em alumínio em que a paisagem da Oca é desmembrada em manipulações digitais impressas. Sobrepostas às impressões, estruturas modulares e deslizantes permitem ao público interferir nas paisagens como se estivesse abrindo trilhas e passagens. “A partir da planta da Oca, usei um processo de rebatimento especular digital para fazer essas sobreposições que criam múltiplas perspectivas do edifício. Embora essas obras sejam painéis, o que estou fazendo é arquitetura”, comenta Ana. O resultado é similar a um caleidoscópio caótico do projeto de Niemeyer que, assim como um enigma, é decodificado e afastado de sua vocação diáfana original. Aos quatro painéis metálicos são dados nomes de motéis da cidade do Rio de Janeiro: Calypso, Comodoro, Pallazo e Eden. Nomes que ironizam a realidade brasileira, selvagem e mestiça, em constante contradição com a invenção de uma paisagem vernacular do projeto modernista – sonhada por Niemeyer e por tantos outros artistas brasileiros do século passado.