8ª Bienal do Mercosul – Ensaios de Geopoética/ Cais do Porto e outros seis locais, Porto Alegre/ até 15/11

chamada.jpg
AMÉRICA REVISITADA
Still do vídeo “Estadio Azteca” (2010), de Melanie Smith e Rafael Ortega

Uma relação simbiótica se estabeleceu entre os artistas convidados da 8ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, e a paisagem do Rio Grande do Sul. O território gaúcho foi esquadrinhado por vários artistas e protagoniza diversos trabalhos da mostra. Em “Cidade Não Vista”, módulo espraiado por nove localidades de Porto Alegre, artistas fazem intervenções mínimas em viadutos, muros, fachadas e jardins, chamando a atenção dos visitantes da Bienal e, sobretudo, dos pedestres habituais para detalhes ignorados da paisagem urbana. O japonês Tatzu Nishi transpõe suas conhecidas ambientações caseiras em torno do patrimônio histórico para o prédio da prefeitura velha, construindo um modesto quarto na altura do relógio, do brasão e de dois bustos no ponto mais alto da fachada.

Na abertura oficial da Bienal, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, afirmou que se sentia incluído na obra, uma vez que, pelas escadas de acesso no exterior do prédio, o público passa pela janela de uma de suas salas de trabalho. A intervenção de Santiago Sierra, uma sobreposição dos hinos dos países do Mercosul, dá livre acesso ao jardim do Palácio Piratini, onde vive e trabalha o governador. A instalação sonora de Valeska Soares e O Grivo reabriu o belvedere da Casa de Cultura Mario Quintana, fechado há mais de uma década.

img.jpg
VISTA AÉREA
Instalação com carpete recortado, de Gal Weinstein,
reproduz visão dos pampas obtida no Google Earth

Em “Além Fronteiras”, mostra com curadoria de Aracy Amaral no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, as viagens pelo Estado transparecem nas obras de Carlos Vergara – que monumentaliza um suvenir indígena típico da região das Missões jesuíticas –, Irene Kopelman – que registra em desenhos os cânions da Serra Geral–, e Lucia Koch – que desconstrói em uma videoinstalação o encantamento provocado por fontes luminosas do interior gaúcho –, entre outros. E mesmo um artista que não pôde vir ao Brasil, o israelense Gal Weinstein, debruçou-se sobre a paisagem dos pampas, criando uma instalação com carpete recortado de várias cores que reproduz uma visão de satélite –obtida por meio do Google Earth – da região de Entre-Ijuís.

Assumidamente voltada para o contexto local onde se realiza, a oitava edição da Bienal do Mercosul, com curadoria-geral do colombiano José Roca, possibilita uma reflexão consistente acerca do significado nebuloso de nacionalidades e fronteiras no mundo atual. E, bem entendido, não se restringe a obras feitas no Rio Grande do Sul ou sobre ele, uma vez que importantes nomes estrangeiros lidam com a mesma temática, dos quais Melanie Smith e Cristina Lucas são detaques.

Juliana Monachesi, de Porto Alegre