Assista ao vídeo e conheça a história de Guilherme Oliveira :

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Guilherme, 10 anos, sofria com as provocações de seus colegas.
Com a ajuda da família, mudou de hábitos e emagreceu

Maggie tem 14 anos e está acima do peso. Seus quilos extras a tornam insegura e solitária. Decidida a mudar esse quadro, ela começa uma dieta e passa a praticar exercícios físicos com regularidade. Após muito esforço, se transforma na estrela do time de futebol da escola e é reconhecida por todos os colegas, ganhando fama e popularidade. Esse conto de fadas açucarado, enredo mais do que comum nas produções americanas para a plateia infantojuvenil, está mobilizando a opinião pública dos Estados Unidos. Maggie é personagem de ficção do livro “Maggie Goes on a Diet” (“Mag­gie faz dieta”, em tradução livre), escrito pelo autor nova-iorquino Paul Kramer. Com publicação prevista para outubro, a obra já coleciona desafetos por associar magreza a sucesso e sugerir que crianças de 4 a 8 anos de idade, público-alvo do título, devem fazer dieta.

“É muito perigoso associar magreza a sucesso. Essa atitude só reforça o preconceito contra os gordos. E ser magro não significa ser mais bonito ou saudável”, afirma José Candido Cheque, psicólogo e coordenador do Grupo Obesidade Atendimento Multidisciplinar Infantil (Goami) da Universidade Guarulhos. Em sua defesa, Kramer, o autor do livro, afirma que apenas desejou alertar pais e filhos para um problema que cresce a cada refeição: a obesidade infantil. Polêmicas à parte, estatísticas apontam que o excesso de peso na infância já pode ser considerado uma epidemia mundial. Nos Estados Unidos, país com a maior incidência de obesidade infantil no mundo, uma em cada três crianças está com sobrepeso ou obesa. Dessas, aproximadamente dois milhões são extremamente obesas. Aqui no Brasil, nas duas últimas décadas, a obesidade entre crianças de 5 a 9 anos aumentou mais de quatro vezes (leia quadro).

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E o que parece ruim hoje pode piorar muito, alerta Maria Alice Bordallo, coordenadora do setor de endocrinologia pediátrica do Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. A endocrinologista conduz há cinco anos uma pesquisa que investiga as complicações de saúde apresentadas por crianças com excesso de peso. Enfermidades como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, colesterol alto e excesso de gordura no pâncreas e no fígado, que eram típicas apenas em adultos. “Isso não existia há 30 ou 40 anos. São fatores de risco para doenças cardiovasculares, que passaram a ser observadas também em crianças”, diz Maria Alice, salientando que 80% dos pequenos com excesso de peso hoje serão obesos na vida adulta. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou que em 2040 o Brasil vai ser campeão em óbito por doença cardiovascular. E em 2040 os adultos serão justamente as crianças de hoje. Daqui a dez anos a obesidade no Brasil vai ser maior do que nos EUA.”

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Entre os principais vilões da saúde infantil está a mudança de hábitos alimentares das novas gerações, que consomem cada vez mais produtos industrializados e recheados de calorias. Bolachas e frituras sempre fizeram parte da alimentação de João Vitor, 6 anos. Morador de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o garoto apresenta índice de massa corporal (IMC) de 20.15, quatro pontos acima do ideal. Preocupada, a mãe, Rosangela Amaral, 46 anos, que faz salgadinhos e doces para festas, procurou ajuda no Hospital Pedro Ernesto, onde João recebe acompanhamento médico e nutricional desde janeiro. “Ele já aprendeu a gostar de maçã, mas ainda falta muita coisa”, admite.

A redução da prática de atividades físicas também pesa na balança. Um levantamento feito pelas secretarias de Estado da Saúde e da Educação de São Paulo com 2,5 mil estudantes do quinto ao nono ano do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino médio revelou que, pela primeira vez, os alunos do ensino médio estão 20% mais ativos do que seus colegas do fundamental. “Essa mudança de comportamento acende um alerta. Indica que, a cada geração, o problema da falta de atividade física se agrava”, diz Victor Matsudo, coordenador do Programa Agita São Paulo. Brenda Gerônimo, 9 anos, nunca foi fã de esportes. Aos 8 anos e com 1,60 m de altura, chegou a pesar 63 quilos. Sua mãe, Helena Gerônimo, 41 anos, percebeu o tamanho do problema por meio de uma ilustração. “Vi um desenho que Brenda fez dela mesma com o corpo enorme, ocupando toda a folha de papel, e embaixo a legenda ‘A Brenda é horrorosa, parece uma baleia’”, conta. “Aquilo cortou meu coração.” Decidida a procurar apoio para a filha, Helena conheceu o Goami, da Universidade Guarulhos. Nos seis meses em que mãe e filha participaram do grupo, a garota emagreceu cinco quilos e Helena, oito quilos.

“O acompanhamento de uma família não dura dois ou três meses, mas sim dois ou três anos”, conta Vera Lúcia Perino Barbosa, presidente do Instituto Movere, organização não governamental que atende gratuitamente famílias de baixa renda em busca de orientação no combate à obesidade em São Paulo. Desde que foi criada, em 2004, a entidade já ajudou 1.500 crianças e adolescentes, de 6 a 17 anos, que apresentavam quadros de obesidade e sobrepeso. Entre eles está Guilherme, hoje com 10 anos. O menino, que há dez meses tinha 1,55 m de altura e 68 quilos, virou motivo de chacota dos colegas. Hoje, com cinco centímetros a menos de cintura, come frutas, legumes, verduras e comemora o ganho de agilidade. “Agora me sinto mais leve e gosto de jogar futebol”, diz Guilherme, orgulhoso. E sem pressão.

 

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