O que faz alguém deixar de ser uma talentosa promessa para se transformar numa sólida e bem-sucedida realidade? São muitos fatores, sem dúvida. Mas o processo de construção do sucesso duradouro passa necessariamente pela afirmação. O ano que se foi revelou uma safra promissora. Com seus belos e precisos timbres, Maria Rita, filha da eterna Elis Regina, encheu de nostalgia e esperança os órfãos da Pimentinha. Neste ano, terá de lidar com a maternidade e com a ânsia de seu já cativo público em ver sua estrela brilhar mais uma vez. Rápido e maroto como o pai, Nelsinho Piquet causou boa impressão em sua primeira temporada nas pistas inglesas. Mas no quesito revelação reinou absoluta a ginasta gaúcha Daiane dos Santos. A Pérola Negra arrebatou o mundo com seus saltos e piruetas, que desafiam a própria lei da gravidade. Em 2004, todos precisarão se afirmar, ou seja, mostrar que têm atributos necessários para consolidar o êxito obtido. Caso contrário, correm o risco de desaparecer no buraco negro que costuma engolir os que não se preparam para chegar ao topo e por lá ficar. Nesse aspecto é bom até o governo Lula abrir o olho. A paciência e a tolerância, justas no primeiro ano de mandato, serão trocadas pela pressão e cobrança por resultados.

É consenso que se manter no ápice é muitas vezes mais difícil do que chegar até ele. Apesar de não haver uma fórmula pronta para manutenção do sucesso, há alguns caminhos a serem seguidos. “Talento, paixão e muito trabalho são fundamentais. Fora isso, é necessário que se tenha ou se desenvolva traços como persistência, flexibilidade e paciência”, diz o psicoterapeuta Ari Rehfeld, supervisor da clínica de psicologia da PUC-SP. Aos 20 anos, Daiane dos Santos garante ter aprendido algumas lições determinantes para quem não quer deixar o lugar mais alto do pódio. Se bem assimilados, esses ensinamentos, principalmente em ano de Olimpíada, podem valer ouro. “Não adianta ter só talento. Para se afirmar é preciso ter muita coragem, persistência, determinação e humildade”, diz Daiane. Ela tem consciência que desembarcará em Atenas com a responsabilidade de trazer uma medalha. Mas não acredita que um eventual mau resultado comprometa sua carreira. “As pessoas precisam entender que uma vitória na Olimpíada depende de uma série de fatores. É claro que tenho chances. Mas espero ser reconhecida pelo trabalho que já fiz.”

Frustração

– A ginasta parece ter tomado uma vacina antifrustração. A baixa tolerância a essa sensação costuma ser uma via rápida para o fracasso. “As pequenas derrotas são absolutamente normais. Só não podem ser encaradas como quedas definitivas. Quem faz sucesso precisa desenvolver um escudo contra frustração”, diz a psicóloga do Instituto de Gestalt de São Paulo, Myrian Bove Fernandes. Aos 18 anos recém-completados, Nelsinho Piquet não tem nem idade para ter vivido muitas frustrações. Mas já teve que deixar muita coisa de lado para acelerar rumo ao seu sonho: chegar à Fórmula-1. Além da inevitável pressão por ser filho de um tricampeão mundial, a profissão que escolheu o privou de ter uma adolescência como a de qualquer garoto bem-nascido como ele. “Tive que deixar minha mãe muito cedo para vir correr no Brasil (a holandesa Sylvia, segunda mulher do pai, Nelson, que vive na Europa). Este ano não terei férias. Em vez de ir à praia ficarei aqui em Brasília, me preparando para o difícil ano que terei pela frente”, diz o piloto. Em 2004, Nelsinho fará mais uma temporada na F-3 inglesa e sonha ser contratado como piloto de testes da Williams. O caminho para o reconhecimento, como se vê, é duro e tortuoso. Já para o fracasso, basta um pulinho.


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