Na sexta-feira 16, o calendário marcou a passagem de uma data simbólica: mil dias para o jogo de estreia da Copa do Mundo de 2014. E qualquer pessoa que esteja preocupada com um Mundial minimamente organizado já deveria colocar as barbas de molho. Duas obras cruciais – a do principal estádio e a do maior aeroporto – estão paradas. A primeira, a do Maracanã, porque os operários cruzaram os braços diante da recusa das empreiteiras em conceder benefícios mínimos, como vale-refeição. A segunda, a do Aeroporto Internacional de Guarulhos, porque o contrato foi feito sem licitação, em caráter de urgência. Para piorar, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, questiona a legalidade do Regime Diferenciado de Contratações, que torna mais frouxas as regras para obras públicas.

De concreto, o que fez o governo até agora? Promete colocar no ar, nos próximos dias, um portal na internet para dar transparência aos gastos dos projetos da Copa. E, embora o discurso oficial seja o de que o cronograma vai sendo cumprido, basta visitar as cidades-sede para perceber que quase tudo está atrasado. Não só os estádios, mas também as obras de mobilidade urbana que deveriam preparar as cidades com metrôs, avenidas e corredores de ônibus para receber um evento de grande porte, como é uma Copa do Mundo.

Pode-se alegar que as regras no Brasil são complexas, que a lei de licitações é arcaica e uma série de outras desculpas, mas o fato é que a máquina pública também está travada diante do vendaval de denúncias, em Brasília. Dois ministérios cruciais para a organização da Copa – o dos Transportes e o das Cidades – foram atingidos pelos escândalos. No primeiro, um ministro, Alfredo Nascimento, já caiu. No segundo, o atual, Mário Negromonte, parece ser o próximo da fila. E no Turismo, que deveria ser tratado como uma pasta estratégica, num país que recebe bem menos visitantes internacionais do que deveria diante de seu imenso potencial natural (com Copa ou sem Copa), a escolha de um aliado de José Sarney – na lógica fisiológica do toma lá dá cá – não parece ser a mais adequada.

Tudo o que o Brasil não pode alegar é que faltou tempo para organizar o Mundial. O anúncio da Fifa ocorreu no dia 30 de outubro de 2007 – há quase quatro anos, portanto. Mais de mil dias se passaram e menos de mil faltam para o primeiro jogo do Mundial. E quanto mais curto for o cronograma para a execução das obras, melhor será para as empreiteiras. Qualquer gasto, qualquer estouro orçamentário, qualquer programa emergencial será justificado pela necessidade de que o Brasil não dê vexame. Será que assim a bola rola? Ou será que rola a bola? Detalhe: 2014 não é ano apenas de Copa do Mundo. É ano também de eleições gerais. Já pensou?