O festival de delitos do agora ex-ministro do Turismo Pedro Novais mostra em estado puro um tipo de político que tem compulsão pelo uso da máquina pública em proveito próprio e acredita piamente não estar fazendo nada de errado. Tal e qual um coronelzinho provinciano de podres poderes, Novais armou de tudo um pouco em seu fisiologismo descarado. Pagou festinhas em motel com verba parlamentar, salário de governanta e até do motorista particular com o seu, o meu, o nosso dinheiro. A mulher do ministro também aproveitava as benesses do Legislativo e saía às compras em carro bancado por verba indenizatória do gabinete – que teoricamente serviria à locação de veículo para uso oficial. De supermercados a restaurantes e lojas de grife, Maria Helena não parava em seu circuito diário de madame da sociedade com um servidor que fazia as vezes de chofer pela capital federal. Muitos poderão dizer que tais delitos não passam de crimes da raia miúda, tão medíocres que não deveriam nem ser considerados para punição. Mas é justamente esse comportamento condescendente com os pequenos desvios que levou à completa deterioração da imagem do Congresso Nacional e da classe política, com raríssimas exceções. A tolerância com o malfeito sinaliza uma falta de respeito para com o cidadão/eleitor. Diante desse quadro crônico de mazelas é que, por todo o País, vem subindo por esses dias a temperatura de protestos contra a corrupção. O povo, talvez cansado da inanição moral de uma de suas principais instituições, parece mais disposto do que nunca a dar um basta a esse estado de coisas. Novas manifestações estão marcadas para esses dias e, de alguma forma, mesmo que involuntariamente, deverão ajudar na faxina empreendida pelo governo Dilma. Isso porque a presidente, com sua limpeza ética, vinha enfrentando fortes resistências, dos próprios congressistas, que prometiam retaliar votando contra projetos encaminhados pelo Executivo. De alguma maneira, se a contaminação em escala da podridão parlamentar foi inevitável, a faxina de Dilma se apresenta como crucial. Ela atende aos anseios da imensa maioria dos brasileiros que clama por uma nova ordem política. Menos miúda, mais republicana.