I’m a cliché – Ecos da estética punk/ CCBB-RJ/ até 2/10

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VELUDO
Stephen Shore consegue imagens preciosas da banda Velvet Underground

No livro “Só Garotos”, a roqueira Patti Smith mostra que o punk rock nova-iorquino nasceu de uma experiência múltipla que integrava poesia, teatro, arte experimental e performance. Tudo o que Patti traduziu em som e letra, seu companheiro Robert Mapplethorpe construiu em imagem. Os retratos que Mapplethorpe fez de Patti hoje são documentos não apenas de uma geração, mas daquilo que se reconhece como uma estética punk. “Marginal, internacional, escura, tribal, alienada, estrangeira e cheia de humor negro”, assim o biógrafo Jon Savage define o punk. Qualidades reconhecíveis em outros grandes fotógrafos daquela geração, que ficaram mais ou menos obscuros que Mapplethorpe e que hoje vêm à tona na exposição “I’m a Cliché – Ecos da Estética Punk”, no CCBB-Rio.

Warhol, Conner, Lamelas, Wojnarowicz, Morris, Reid, Linder, Hujar, Shore. O que está em jogo nas imagens desses fotógrafos e artistas, mais do que a estética, é a energia do punk, feita de clichês infalivelmente sedutores. Clichês como Sid Vicious empunhando a guitarra como se fosse uma arma, pronto para detonar tudo, diante das lentes de Dennis Morris, que foi o fotógrafo oficial de Bob Marley & The Wailers nos anos 70 e dos Sex Pistols, quando assinaram com o selo Virgin Records. Ou estereótipos deliciosos como os ensaios da banda Velvet Undergound na Factory de Andy Warhol, clicados por Stephen Shore. O que não é comum é a intimidade como o grupo era retratado.

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VÍCIO
Vitalidade das imagens de Dennis Morris transforma o
clichê máximo do punk, Sid Vicious, em objeto de desejo

A exposição empresta seu título de uma música da banda X-Ray Spex e acerta no alvo ao eleger o clichê como ideia central ao espírito punk. Outra qualidade desse projeto da curadora francesa Emma Lavigne – curadora de arte contemporânea do Centre Pompidou – é integrar música e fotografia. A trilha sonora das salas faz de “I’m a Cliché”, mais que uma exposição, uma experiência.

Embora tenha vindo montada do festival internacional de fotografia Les Rencontres D’Artes 2010, que acontece na França, a exposição teria merecido um segmento dedicado ao Brasil, já que o movimento punk por essas bandas também não é nada desprezível. Mas, quem lamentou a ausência de um catálogo, pode se contentar com as fotos do punk no Brasil no livro “Fodido e Xerocado – Por Favor, Olhe para Mim!”, de Daigo Oliva e Mateus Mondini, à venda na Livraria da Travessa do CCBB Rio.