Extraordinário talento individual a serviço da equipe do Barcelona, o craque Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, fez definitivamente de 2005 o seu ano de glória. Desde que foi eleito pela Fifa, em dezembro do ano passado, o melhor jogador do mundo de 2004, não parou mais de ganhar prêmios, títulos e, claro, muito dinheiro. As conquistas da Liga Espanhola, da Supercopa da Espanha e da Copa da Cataluña renderam-lhe a renovação de contrato com o Barcelona até 2010 e um salário anual estimado em seis milhões de euros. Na Seleção Brasileira, o sucesso não foi menor: conquistou a Copa das Confederações com uma final de goleada sobre os eternos rivais argentinos. E no plano individual foi condecorado com a Bola de Ouro da revista France Football, prêmio de maior prestígio do futebol europeu. Por tudo isso, esse humilde – atributo raro entre boleiros – e simpático jovem de 25 anos, eleito por ISTOÉ o Brasileiro do Ano nos Esportes, tem também grandes chances de levar para casa, pela segunda vez, o título de melhor do mundo da Fifa em 2005.

“Nessas horas passa um filme na cabeça da gente e você lembra das pessoas que mais gosta”, disse o craque a ISTOÉ durante uma conversa de quase três horas em sua casa, em Castelldefells, a 20 minutos de Barcelona. Entre os protagonistas desse enredo destacam-se o pai do craque, João, que faleceu quando ele tinha oito anos, a irmã, Deisi, que cuida da agenda e da assessoria de imprensa do jogador, o irmão e empresário Roberto de Assis e a mãe, dona Miguelina, “a mulher da minha vida”, como o astro não cansa de dizer. O pequeno João, filho de nove meses e meio do jogador com uma dançarina do programa Domingão do Faustão, também deve ganhar cada vez mais força nesse filme. Pelo que se sabe, a gravidez não foi planejada, mas Ronaldinho, ao contrário de muitos outros jogadores, não hesitou em assumir o filho e o batizou de João, em homenagem ao pai. “Estamos muito felizes com o bebê. Ele é lindo”, vibra a irmã.

Voltando ao hipotético filme da vida do astro,
pode-se dizer que as primeiras cenas começam
em 1987, quando Ronaldinho, aos sete anos, estabelece o primeiro contato mais sério com a bola. “Ele acompanhava os treinos do Assis (o irmão, Roberto), que nessa época jogava no Grêmio. Depois de ter sido convidado por alguns dirigentes do clube, foi levado pelo meu pai para treinar na escolinha do time”, lembra Deisi. Aos 16 anos, ainda como reserva do sub-17 do Grêmio, Ronaldinho – aconselhado pelo irmão, que nessa época jogava no Sion, na Suíça – assinou um contrato de exclusividade com a Nike. “No início não rolava grana, mas era uma forma de ele ganhar material esportivo da grife que patrocina os melhores craques”, conta Assis, 34 anos.

Na seqüência, Gaúcho entrou para o sub-17 da Seleção Brasileira e foi campeão sul-americano e mundial no Egito, em 1997. Ao voltar de lá, virou titular do Grêmio. E dois anos depois, em 1999, graças ao desentendimento de Vanderlei Luxemburgo e Edilson, estreou na Seleção Brasileira num jogo contra a Letônia. Mas foi na Copa América de 1999, contra a Venezuela, que Ronaldinho conquistou os torcedores brasileiros de vez, ao dar um chapéu cinematográfico num adversário e marcar um gol de placa. Daí em diante, a ascensão foi contínua. Do Grêmio, em 2001, o jogador foi para o Paris Saint-Germain, da França, e de lá, em 2003, para o Barcelona, de onde não deve sair tão cedo, para sorte dos torcedores e sócios da equipe azul-grená da Catalunha. No último dia 19 de novembro, após marcar o seu segundo gol na partida, antológico como o primeiro, na vitória de 3 a 0 contra o Real Madrid na casa do adversário, foi ovacionado de pé pela torcida do rival, algo que só havia ocorrido uma vez, em 1984, com Maradona. Teria ali, além da Bola de Ouro francesa, quem sabe, conseguido o bi da Fifa.

Ronaldinho recebe fortunas. Mesmo assim, o negócio é excelente para quem paga. Desde que ele entrou para a equipe, o faturamento do clube cresceu 40% e o cachê cobrado por amistoso foi multiplicado por três. Saltou de R$ 2 milhões para R$ 6 milhões. Atualmente, sete em cada dez camisas vendidas a torcedores do time trazem o 10 do Gaúcho. É por essas e outras que a nova cláusula de rescisão de contrato do jogador é de 125 milhões de euros, ou cerca de R$ 330 milhões. Pepitas de ouro para um legítimo Bola de Ouro.