Do assunto de integração ele entende. Durante os seis meses da presidência rotativa da União Européia, entre julho e dezembro de 2002, o dinamarquês Bertel Haarder tratou da pasta de Assuntos Europeus e foi um dos impulsionadores do ingresso de mais dez países à União Européia, que acontecerá efetivamente em 2004. Nomeado no final do ano passado como ministro dos Refugiados, Imigrantes e da Integração, Haarder, em entrevista exclusiva a Istoé em São Paulo, falou sobre
temas que interessam ao Brasil, como a luta para baixar os subsídios agrícolas na nova União Européia.

Istoé – Como o sr. vê a pressão dos fazendeiros franceses para que não haja reformas profundas na Política Agrícola Comum (PAC)?
Haarder –
A UE concordou em reduzir os subsídios agrícolas para 2007, o que já foi um grande passo, uma mudança a longo prazo. Venho de um país que é favorável também às reformas a médio prazo, assim como a Alemanha, a Áustria e a Grã-Bretanha, mas, como você disse, a França não é. Já obtivemos a primeira vitória, mas as negociações não acabaram. O fato de termos estabelecido um teto para os subsídios forçará os países a negociarem, porque a UE não sobrevive sem
dinheiro. Queremos também dar continuidade ao diálogo já existente
com o Brasil e ampliar os acordos comerciais. Estamos esperando em breve a visita do presidente Lula em Bruxelas.

Istoé – Com o ingresso de mais dez países (mais pobres que os 15 existentes), a Europa aumenta em um quinto sua população, mas seu PIB per capita diminui. Além disso, o euro hoje vale mais que o dólar. Como lidar com essas diferenças?
Haarder –
O importante é que a Europa esteja economicamente
estável, com inflação baixa e dívidas pequenas. O déficit anual não poderá ultrapassar 3% do PIB. A Irlanda era um dos países mais pobres
e, graças à integração, suas exportações aumentaram e o país se desenvolveu. Teremos que dar apoio a países como a Polônia e a Eslovênia, mas a única forma de obter mais recursos é cortar os
custos do Estado do Bem-Estar Social.

Istoé – No caso de haver necessidade de se tomarem decisões rápidas, como obter consenso entre 25 países?
Haarder –
Precisamos de um mecanismo eficiente. A unanimidade
será deixada de lado, a não ser em casos excepcionais. Teremos
que nos agrupar em assuntos que consideramos fundamentais,
como a nova Constituição. Cada país terá um número correspondente
de votos. Os maiores, como a Alemanha, terão 29, a Espanha 27
e os menores, como a Dinamarca, 7.

Istoé – A Grã-Bretanha anunciou que, se necessário,
enviará tropas numa possível guerra contra o Iraque. Como
o sr. vê essa decisão unilateral?
Haarder –
A UE é formada por países soberanos, com suas políticas externas, e, portanto, cabe aos britânicos a decisão sobre intervenção militar. Os países europeus deverão acordar sobre uma política de uso
das forças rápidas de ação.

Istoé – Semanalmente a França recebe cerca de dez brasileiros
em situação ilegal que foram expulsos da GrãBretanha. Eles vão para Paris porque foi o primeiro destino europeu. Como resolver esse tipo de situação?
Haarder –
Este é um bom exemplo de problemas que iremos enfrentar. Para isso, teremos que adotar uma linha padrão para os países do Terceiro Mundo, com uma política específica. Os brasileiros têm que ter os mesmos direitos na França ou na Inglaterra. Não vai ser fácil.