Não é de hoje que os brasileiros, mobilizados em torno de entidades representativas ou por intermédio das difusas comunidades virtuais, saem às ruas para exigir das autoridades uma postura mais ética e clamar contra a corrupção. Foi graças à força de quase dois milhões de assinaturas populares que o Congresso aprovou em maio do ano passado a chamada Lei da Ficha Limpa. Deputados e senadores se viram obrigados a aceitar a demanda popular e implantar a norma que tem o objetivo de evitar que pessoas com passado comprometedor ocupem cargos eletivos em qualquer nível de poder. Na quarta-feira 7, quando o País comemorou 189 anos de independência, milhares de pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios e as ruas das principais capitais do Brasil. Desta vez, não seguiam a orientação de movimentos sociais, entidades de classe ou ONGs. Mobilizaram-se a partir de mensagens trocadas pela internet, não permitiram que partidos políticos se apropriassem do movimento, impediram o levantar de bandeiras ideológicas e deram um claro recado: a insatisfação com a corrupção. O movimento, ainda difuso, promete novas manifestações, e parlamentares experientes, como o senador Pedro Simon (PMDB-RS), avaliam que a tendência é de que haja um maior número de manifestantes.

Diante desse quadro, resta aos políticos dar as respostas que a sociedade exige. Na mesma quarta-feira 7, em cadeia nacional de rádio e tevê, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que a faxina continua e que não irá tolerar a corrupção no Executivo. Para enfrentar de vez o problema, no entanto, é preciso que o Legislativo se movimente. Deputados e senadores não podem mais adiar a questão da reforma política. Não aqueles arremedos que têm tramitado pelo Congresso e que na prática traduzem apenas mais poder para os partidos na hora de definir os eleitos ou buscam a garantia de recursos financeiros para as disputas eleitorais. O que o brasileiro manifesta é o desejo de uma reforma política que assegure a transparência nas arrecadações de campanha e dos compromissos de cada candidato. Uma reforma que, em tempos de informação online, permita ao eleitor um efetivo controle sobre as atividades de seus representados e um sistemático acompanhamento dos gastos públicos. E, acima de tudo, o povo exige punição. Não suporta mais assistir a cenas de ocupantes de cargos públicos colocando nos bolsos, e nas cuecas, maços e maços de dinheiro e continuarem em seus cargos como se a prática do pagamento de propinas fosse algo absolutamente normal. Num Parlamento que nos últimos nove meses se limitou a votar dois ou três temas de interesse do Executivo, há tempo de sobra para que a reforma política seja tratada com a seriedade que merece, ainda este ano, para que as eleições de 2012 já apresentem novas regras.


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