Anda falhando a comunicação mediúnica entre o chamado “mercado” e os seus supostos intérpretes. Nesta semana, bastou o anúncio
da decisão do Comitê de Política Monetária, que reduziu de 12,5% para 12% a taxa de juros, para que os porta-vozes do sistema financeiro passassem a gritar em coro que o governo Dilma havia derrubado o último pilar da estabilidade econômica: a autonomia do Banco Central. Como ela, nos dias anteriores ao Copom, havia dito que o Brasil já tinha condições para iniciar um novo ciclo de afrouxamento monetário, tese abraçada pelo Banco Central, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, ganhou o rótulo de “pau-mandado”.

Na prática, não se discutiu o mérito da decisão. Ela estaria equivocada – ainda segundo os oráculos do mercado – apenas porque teria sido fruto da pressão do Palácio do Planalto. Bom, mas qual foi a resposta real do mercado no dia seguinte? A Bovespa subiu 2,87% na quinta-feira 1o, quando as demais bolsas de valores mundiais registraram fortes quedas. Fez-se a leitura de que o BC, acertadamente, tomou medidas para resguardar o Brasil do contágio da crise internacional.

Se Tombini tivesse agido por pressão de Dilma, ainda assim a decisão do BC deveria ser elogiada por uma razão óbvia: estava certa. Mas, ao que tudo indica, Tombini agiu ancorado em análises consistentes sobre a economia internacional que apontam um recrudescimento da crise global. Um dia depois da decisão do Copom, os Estados Unidos reduziram de 3,1% para 1,6% sua projeção para o PIB americano em 2011. Indicadores industriais de diversos países da Europa e da Ásia apontaram desaceleração. E o economista Nouriel Roubini, que previu a crise de 2008, passou a dizer que uma nova recessão – lá fora, não no Brasil – parece ser inevitável.

Três anos atrás, com uma agressiva política anticíclica, o Brasil foi o país que menos sentiu os efeitos da crise. Graças a essa estratégia, capitaneada pelo ministro Guido Mantega, a economia brasileira vem tendo sua classificação elevada por agências internacionais de risco, enquanto outros países são rebaixados. E não custa lembrar que a inflação acumulada nos últimos 12 meses no Brasil, apesar de toda
a gritaria dos rentistas, amantes dos juros altos, ainda se encontra dentro da meta traçada pelo BC.

Os corvos continuam à solta, mas o fato é que Alexandre Tombini marcou um gol. E os analistas que defendem a engorda do sistema financeiros se desmoralizaram. Já é um começo.