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NO TOPO
Fabiana instantes depois do título:
“Muita gente pode pensar que conquistas
acontecem por acaso, mas isso não é verdade”

O título mundial de salto com vara conquistado por Fabiana Murer na terça-feira 30, em Daegu, na Coreia do Sul, está carregado de simbolismos. Primeiro ouro do Brasil na história do mais importante evento do atletismo fora do calendário olímpico, ele confirma a impressionante evolução das esportistas brasileiras, até pouco tempo atrás relegadas a posições secundárias em disputas internacionais. A conquista também coloca Fabiana na lista dos atletas capazes de se reinventar. Na Olimpíada de Pequim, em 2008, ela foi alvo de piadas depois que uma de suas varas desapareceu. Favorita ao pódio, Fabiana terminou a prova em 10º lugar e ainda teve de suportar uma saraivada de obscenidades (nem é preciso explicar os motivos) ditas a respeito do sumiço. Três anos depois, não só assegurou o título mundial com um salto de 4,85 metros (na Olimpíada, chegou apenas a 4,32 metros) como venceu a estrela russa Yelena Isinbayeva, dona da melhor marca da história, e a americana Jennifer Suhr, líder do ranking na temporada. Por fim, a vitória da semana passada comprova que a combinação de talento com preparação adequada e investimentos consistentes é uma receita infalível para o aparecimento de campeões. “Muita gente pode achar que as conquistas acontecem por acaso, mas isso não é verdade”, diz Fabiana. “O meu título é resultado do trabalho pesado de várias pessoas.”

A reviravolta na carreira de Fabiana começou em 2010, quando ela estabeleceu uma meta ambiciosa: saltar cinco metros, altura até hoje só ultrapassada por Isinbayeva. Para que o projeto se tornasse realidade, era preciso cercá-la da melhor equipe possível. Fabiana é treinada pelo marido, o brasileiro Elson Miranda – ainda hoje seu preparador número 1 –, mas faltava alguém acostumado a forjar campeões. “Pensamos imediatamente no Vitali Petrov”, diz Miranda. O ucraniano Petrov foi durante muitos anos técnico de Sergey Bubka, uma das maiores lendas da história do atletismo (sua marca de 6,14 metros no salto com vara, alcançada em 1994, ainda não foi batida), e da própria Isinbayeva. Em 2010, Petrov passou a receber salário da Confederação Brasileira de Atletismo para atuar como consultor da modalidade no País. De imediato, ele sugeriu que Fabiana aumentasse o número de passadas antes do salto (leia quadro), tática que resultou no aumento da velocidade da atleta. O ucraniano também fez com que a futura campeã mundial utilizasse uma área maior da pista para realizar a corrida (36 metros em vez de 32). Parecem pequenas mudanças, mas elas foram fundamentais para que a brasileira voasse mais alto. “Com o Petrov, também aprendi a ter mais confiança e a acreditar que era possível vencer as melhores atletas do mundo”, diz Fabiana.

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O apoio financeiro de três patrocinadores fixos e da Confederação Brasileira permitiu à campeã se dedicar exclusivamente aos treinos e a participar de todo o circuito mundial. Melhor ainda: além de aprimorar a técnica de Fabiana, a presença de Petrov tem sido fundamental para a formação de treinadores no País.“Ele é uma pessoa humilde e não tem frescura para dar dicas e sugestões”, diz Miranda. Atualmente, Miranda também é reconhecido como um técnico de primeira classe do salto com vara. Thiago Braz, um de seus pupilos, conquistou no ano passado a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude e, aos 17 anos, já é apontado como uma das maiores promessas do esporte, com direito a elogios até de Sergey Bubka. Claro, não existem fórmulas mágicas para vencer no esporte. Mas o exemplo de Fabiana mostra que o caminho para o topo pode ser menos íngreme do que se imagina. Que outras modalidades fiquem atentas a isso.

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