Relembre, em vídeo, as polêmicas que mais marcaram a vida do diretor :

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CONDENAÇÃO
No processo pela violação sexual de uma garota,
sugeriu-se que Polanski fosse “castrado quimicamente”

O cineasta franco-polonês Roman Polanski, 78 anos, tinha tudo para envelhecer de forma tranquila e produtiva. Casado há mais de duas décadas com a atriz e cantora Emmanuelle Seigner, pai de dois adolescentes, ganhador de um Oscar e consagrado em sua atividade, ele continua sendo um dos poucos diretores “sérios” a conseguir verbas para suas caras produções – seu trabalho mais recente, “Carnage”, é uma das grandes atrações do Festival de Veneza, iniciado na quarta-feira 31. Polanski, contudo, não confirmou presença – e não deve pisar o tapete vermelho. Desde a sua prisão na Suíça, há dois anos, quando correu o risco de ser extraditado para os EUA, país onde é acusado de estupro, o suspense paira de novo em seu cotidiano e seu lado sombrio, esquecido por décadas, voltou à tona. Além do crime de abuso sexual, acontecido em março de 1977, pesa sobre Polanski as trágicas lembranças do garoto judeu encerrado no gueto de Cracóvia e a culpa por ter estado ausente de sua casa na noite em que sua segunda mulher, a atriz Sharon Tate, fora assassinada. É nesse contexto que sai no Brasil a mais nova biografia sobre o cineasta, “Polanski – Uma Vida” (Nova Fronteira), do autor inglês Christopher Sand­ford, que centra fogo justamente sobre esses episódios ainda hoje não esclarecidos.

O livro traz saborosos relatos de bastidores dos filmes mais conhecidos do polonês, como “O Bebê de Rosemary” e “Chinatown”, mas tem seu grande interesse pelo fato de ser o primeiro a revelar em detalhes todo o processo de condenação de Polanski pela violação de uma garota de 13 anos, Samantha Jane Gailey, o que culminaria com a sua fuga dos EUA, em janeiro de 1978. Ele se recusou a cumprir pena por tempo indeterminado numa prisão californiana, onde já havia estado encerrado por 43 dias para averiguação de perturbações psiquiátricas, e afirma ter se sentido “exultante, quase maníaco” ao ver do alto do avião o tapete luminoso de Los Angeles à noite, cidade que o recebeu de limusine e, 14 anos depois, ele abandonaria como um foragido. O retrato oferecido por Sandford em páginas de arrepiar é o de um sujeito acuado, cujas palavras mal conseguiam ser ouvidas pelo juiz. Aconselhado por seu advogado, ao qual pagava um salário de US$ 110 por hora, Polanski fez um acordo e assumiu a culpa do estupro, o que o permitiria se livrar de uma pena de 50 anos de cadeia e ser, na pior das hipóteses, deportado. Esse foi o diálogo ouvido na audiência: “Você é de fato culpado desta acusação?”, pergunta o juiz. “Sim”, diz Polanski. “O que fez neste caso?”, continua o magistrado. “Eu tive um intercurso sexual com uma mulher que não é minha esposa, abaixo dos 18 anos de idade”, balbuciou o cineasta.

Na verdade, ele fez muito mais que isso, e o autor não esconde nada do lamentável episódio. Particularmente chocantes são os depoimentos da garota ao descrever os encontros (que se originaram de uma sessão de fotos para a revista francesa “Vogue Homme”) e a sua insistência em concordar com tudo “porque estava com medo dele (Polanski)”. Mais tarde, já na França, ao falar sobre o ocorrido, o diretor corrigiu o repórter que lhe perguntara se tinha consciência dos 13 anos de Samantha: “Ela ia fazer 14. Três semanas depois, para ser exato.” No fogo cerrado da imprensa, teve quem sugerisse o “castramento químico” do artista. A lembrança dessa prática nazista veio a calhar e foi usada pela defesa do acusado, que é judeu e foi separado da mãe, morta grávida no campo de concentração de Auschwitz. A reprodução das audiências registra o choro compulsivo de uma jurada de origem judaica ao ler o que Polanski passou na infância: ele vivera praticamente como um menino de rua no gueto e se habituara a comer “torta de ratos e sopa de cascas de árvores”. Outra passagem do livro que impressiona pelo detalhismo é o assassinato de Sharon Tate pela “família” do maluco Charles Manson – a descrição de Sandford é técnica, quase policial: “Tate foi apunhalada um total de 16 vezes. Suas últimas palavras foram ‘mãe, mãe’”. A princípio, Polanski achou que os assassinos fossem pessoas do seu círculo, aos quais passou a investigar como um louco. Um dos alvos foi o lutador de artes marciais Bruce Lee, por usar óculos parecidos ao encontrado na cena do crime; outro, o cantor John Phillips, dos Mamas and Papas, cujo carro foi alvo de uma vistoria em sua garagem, em busca de traços de sangue. Agora o retrato é de um desesperado e completo paranoico.

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