Os líbios estão livres! A batalha por Trípoli encerra um dos mais importantes capítulos do que se convencionou chamar de Primavera Árabe – o movimento contra regimes autoritários que desde o início do ano  sacode o Oriente Médioe parte da África e já colocou por terra sistemas absolutistas que estavam em vigor na Tunísia, no Egito e no Iêmen. Muamar Kadafi , chamado por alguns de “cachorro louco”, vinha nos últimos tempos ameaçando seu povo com um banho de sangue, caso não cessassem os protestos. Era um dos expoentes do terrorismo na região, responsável por dizimar milhares de adversários, e mentor oculto de vários atentados ao redor do mundo. Após 42 anos sob o tacape de sua ditadura, o povo tomou ruas, palácios e sedes do governo para proclamar uma nova era. Ninguém sabe ao certo qual será o desfecho desse levante ou como a nação será conduzida daqui para a frente. A ausência de líderes e de uma ofensiva organizada, seja por políticos, seja por militares locais, coloca a revolução líbia numa condição especial, incomum. Movida por tribos do deserto em coalizão com um exército fraco e turbinada por um arsenal de aviões estrangeiros, a insurgência contra Kadafi não traz a garantia de uma conversão automática da Líbia em um regime democrático. País tribal cujas grandes decisões ainda são tomadas debaixo de tendas improvisadas, a Líbia encontra-se no momento sob o comando do recém-criado Conselho Nacional de Transição, cons tituído por representantes de várias facções – desde radicais islâmicos até oposicionistas do ditador, além de jovens laicos e meros simpatizantes da causa. Nesse caldeirão de interesses dispersos sobrevive a tenra esperança de liberdade e de melhores dias para aquela população. Todas as autoridades do planeta deveriam apoiar sem restrições esse grande marco de vitória de um povo e empreender os maiores esforços para que a revolução chegue a bom termo, patrocinando entendimentos e viabilizando com os meios necessários a travessia do sistema para que fi nalmente os líbios possam experimentar a tão sonhada independência das garras de um tirano.