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"Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz…"

Definições do que é loucura, do que é ou não é arte, do que é ser normal, enfim, são alvo de reflexões e discussões desde o início dos tempos. O verso da “Balada do Louco”, dos Mutantes, inspira até a pensar: onde termina a Rita Lee e começa a Ritalina?

Menos preocupado com as elucubrações teóricas, Stephan Doitschinoff, considerado um dos mais instigantes artistas da geração atual e que, apesar do nome, é brasileiríssimo, resolveu cair para dentro e mergulhar num projeto chamado Igual Diferente, pilotado pelo MAM, Museu de Arte Moderna de São Paulo, que pesquisa a chamada arteterapia.

A intenção do MAM é, de fato, levar a arte e os benefícios que ela proporciona a todas as pessoas. E que o museu seja um lugar sem barreiras de nenhum tipo.

Stephan sacou a maneira mais eficiente de aprender: ensinar. Como ele mesmo aprendeu fazendo, teve que parar para pensar qual era o seu método de criação e como faria para passá-lo a pessoas que não possuem necessariamente todas as chamadas “faculdades mentais”. Iria ensinar arte a pessoas diferentes, desde quadros psicóticos mais importantes até gente que não tem problema objetivo nenhum, mas por algum motivo entendeu que encontraria na pintura uma maneira de se sentir mais inteiro.

Através de parcerias com instituições de saúde e educação especial e com projetos sociais, o programa Igual Diferente dá cursos regulares de várias modalidades artísticas. As inscrições são totalmente gratuitas e abertas ao público em geral. Pessoas com ou sem necessidades especiais, alunos com experiência ou iniciantes compõem os grupos das diversas atividades.
Desde sua implementação, 2.866 participantes puderam usufruir dos cursos de arte anuais e 10.699 nas demais atividades: palestras, oficinas, visitas e eventos.

Stephan, que já pintou uma cidade inteira e a colocou no mapa da arte contemporânea mundial (Lençóis na Bahia), achava que iria ensinar. Mas está aprendendo a desenvolver uma metodologia de ensino. Como é autodidata, precisou parar pela primeira vez e pensar o que, afinal, ativa em si mesmo para desenvolver seu trabalho, já que até aqui sempre havia feito tudo de modo intuitivo, espontâneo e natural.
Uma das técnicas que detectou é tentar conjugar coisas discrepantes de forma harmoniosa. Foi assim que ele orientou Raniel, o artista da foto. Numa conversa, o estimulou a elencar alguns temas que tivesse vontade de desenhar. O aluno disse que gostava muito e queria desenhar temas religiosos, vôlei e o mar. O desenho que fez foi da cabeça de Jesus com uma barba que virava uma rede de vôlei e do lado, ali no canto, um iate. Segundo Stephan, o desenho ficou ótimo. A iniciativa de dar aulas, de acordo com o próprio Stephan, tem resultado num enorme crescimento pessoal para ele, que é apoiado por uma assistente educadora e conta com o acompanhamento em reuniões mensais da pedagoga Fátima Freire, filha do educador Paulo Freire.
Uma experiência bem louca.


A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente