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O amplo escritório, no primeiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), identificado como “Gabinete da Ministra” e equipado com uma mesa redonda destinada às reuniões com integrantes do primeiro escalão, não deixa margem à dúvida: a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, é a gerentona do governo. É nesse gabinete, uma espécie de sala de situação, visitado pela reportagem de ISTOÉ na terça-feira 28, que Dilma acompanha com lupa o desempenho dos ministros que estão à frente dos principais programas do governo, entre eles o PAC, Minha Casa, Minha Vida e o pr

é-sal. “Faço o advogado do diabo”, disse a ministra à ISTOÉ. “Questiono os ministros até o limite. Isso gera stress, mas acho que eles aprenderam. Hoje o governo está mais na mão”, disse “a” ministra.

De fato, Dilma, pelo seu perfil, rigor técnico e capacidade para descascar abacaxis, deu um status mais executivo a um ministério historicamente político. Com isso, também ampliou seu leque de atribuições e influência desde que assumiu a pasta, em junho de 2005. Além de dividir com o PMDB o controle do setor elétrico e manter aliados em postos-chave de agências reguladoras, estão sob sua tutela mais de 30 órgãos e instâncias governamentais, entre comitês e grupos de trabalho (leia quadro à pág. 38). Mas onde há centralização de poder, existe conflito. Assim, as tarefas impostas pelo cargo administrativo, ao mesmo tempo que impulsionam sua candidatura ao afirmá-la como uma gerente capaz de aspirar à Presidência da República, também podem lhe render desgastes de natureza política. Afinal, são interesses de políticos de diversas agremiações partidárias que ela muitas vezes, pela natureza do cargo, precisa contrariar. É um fio de navalha sobre o qual a ministra e pré-candidata à Presidência tem que se equilibrar. Pelo menos até deixar a Casa Civil para se dedicar integralmente à campanha. “Sei que tenho que lidar com situações conflitantes. Faz parte do meu trabalho”, admite.

“Sei que tenho que lidar com situações conflitantes.
Faz parte do meu trabalho”

Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil

A tensão aumenta à medida que se aproximam os prazos-limite para a conclusão de obras do governo ou apresentação de projetos considerados caros para o Executivo. Reside aí a maior fonte de desgastes diretos com integrantes do primeiro escalão. A pontualidade precisa ser britânica. Se um cronograma não é cumprido, a ministra é quem entra em cena para saber o que deu errado e encontrar a melhor maneira de solucionar o problema. Caso dois ou mais ministros de determinada área não cheguem a um consenso, Dilma fica encarregada do que chama de “organizar a divergência”. Por determinação expressa de Lula, ela tem duas reuniões para construir o consenso e faz de tudo para não extrapolar o prazo. O presidente só arbitra se, esgotado o limite de encontros, o impasse não for resolvido. Ao fim e ao cabo, a voz firme da ministra tem sempre grande peso. O sentimento no governo é de que Dilma, cada vez mais, administra o País, enquanto Lula fica livre para as gestões políticas, seja nas viagens internacionais, seja nas negociações com o Congresso ou na amarração das alianças para 2010. Segundo um ministro bastante ligado a ela, é como se Lula tivesse antecipado a passagem da faixa presidencial. “Como numa corrida olímpica, é preciso passar o bastão adiante em movimento”, sintetiza a fonte. “Cobro resultado dos ministros, trabalho para resolver os problemas, para que tudo chegue redondo ao presidente e ele, aí sim, tome a decisão política”, reconhece a ministra.

Os embates mais rumorosos envolveram o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e o secretárioexecutivo do Ministério da Integração Nacional, Luiz Antonio Eira. Depois de um desentendimento com Dilma durante reunião para definir o cronograma final da ferrovia Transnordestina, Eira pediu demissão em caráter irrevogável. Em recente reunião com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e integrantes do Ibama, Dilma baixou uma ordem: é proibido entregar estudo ambiental incompleto. “Estudo incompleto é o mesmo que zero”, justificou. Pressionados, os interlocutores fazem cara feia. Falam mal dela pelas costas. Dilma não se importa. Desde que o resultado final seja satisfatório. “Tenho mesmo essa capacidade de gerenciar. Mas eu trabalho junto. Vou a todas as reuniões”, disse a ministra. Segundo o ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, ela faz as coisas andar. É tão abnegada que, mesmo em fase final de recuperação de um câncer linfático, pouco alterou sua carga horária de trabalho. Trabalhava 13 horas por dia. Reduziu a jornada em apenas três horas. “Agora, tento almoçar em casa”, explica ela, que passou a despachar de quinta-feira a segunda-feira em São Paulo, devido à necessidade de se submeter a sessões de radioterapia. O tempo vai dizer para qual lado a balança penderá na hora da campanha eleitorial. Se o da rigorosa gerente ou o da política de temperamento forte. Neste caso, o desafio de Dilma é fazer os aliados de 2010 esquecerem os atritos de hoje.