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FUTURO
A presidente não pretende recuar da faxina ética

Ao deflagrar o processo de faxina ética na Esplanada dos Ministérios e deixar claro aos partidos aliados sua intransigência com o que chamou de “malfeitos”, a presidente Dilma Rousseff acabou promovendo uma pequena reforma ministerial a menos de nove meses da posse. Desde então, foram contabilizadas quatro baixas no primeiro escalão do governo. Na última semana, chegou a vez de Wagner Rossi, então ministro da Agricultura, deixar o cargo em meio a denúncias na pasta. Antes dele, tombaram Antônio Palocci, da Casa Civil, Alfredo Nascimento, dos Transportes, e Nelson Jobim, da Defesa. Com esse rearranjo, Dilma inicia uma nova etapa de seu governo. Embora tenha agido pressionada pelos escândalos de corrupção e seja obrigada a administrar a delicada relação com os partidos aliados, a presidente dá uma demonstração de força. Conseguiu, de acordo com as pesquisas de opinião, aumentar seu cacife político, ampliar seu prestígio perante a classe média e ganhar adeptos entre eleitores não petistas. Sobretudo porque, além da percepção de firmeza, nenhum dos quatro ministros afastados tinha sido da escolha pessoal dela. Foram herdados do governo Lula, que deixou como espólio uma heterogênea base governista recheada de problemas. “Ela agora tem condições de achar o próprio caminho. Daqui por diante, terá margem para estabelecer suas prioridades”, observa o historiador Marco Antonio Villa.

Nessa nova fase, a presidente Dilma começa a deixar o governo mais à sua feição. Rossi, por exemplo, era uma indicação pessoal do vice-presidente Michel Temer. Estava na Esplanada desde 2007, quando assumiu a presidência da Conab. Para seu lugar, a presidente nomeou um gaúcho, até então líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS). Pessoa da confiança da presidente, Ribeiro rompeu com setores do PMDB do Rio Grande do Sul durante as eleições presidenciais de 2010 para se dedicar à campanha da petista. No Estado, o PMDB marchou com José Serra. Mendes Ribeiro também é amigo de Carlos Araújo Paixão, ex-marido de Dilma, há mais de 20 anos. “Trata-se de um grande ser humano. E competente”, elogiou a presidente em conversas com líderes do PMDB. No processo de montagem de um governo com a sua cara, Dilma já havia nomeado Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, Ideli Salvatti para a Secretaria das Relações Institucionais e Celso Amorim para a Defesa. As nomeações não foram suficientes para debelar a crise política, mas o governo já trabalha mais afinado. “Ainda não é o ideal, mas a parte gerencial já melhorou muito”, disse um auxiliar da presidente. Para não melindrar os partidos governistas, Dilma evita falar em novas mexidas. Mas os assessores do Planalto dão como certa uma nova composição ministerial até o fim do ano, em que alguns partidos, como o PR, manteriam seu quinhão no governo, mas em pastas de menor peso político.

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AMIZADE
O novo ministro da Agricultura, Mendes
Ribeiro, é gaúcho e próximo da presidente

Com a perspectiva de mais mudanças no horizonte, Dilma pretende inaugurar um novo modelo de relação com a base governista. “O desafio de Dilma é achar o ponto de equilíbrio entre impor seus nomes preferidos e preservar o apoio de seus aliados”, avalia Marco Antonio Villa. A presidente pretende acelerar a agenda de contatos com partidos e políticos aliados. Há uma reclamação generalizada de que só PT e PMDB recebem privilégios. Para ganhar a confiança das legendas menores, ela assegurou aos líderes do PTB, PP, PRB e PSC a liberação de R$ 1 bilhão em emendas e restos a pagar. Caberá à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, negociar com a área econômica. A intenção é que se chegue ao mesmo valor dos anos anteriores, próximo a R$ 5 bilhões. Em contrapartida, Dilma tem prometido não recuar da faxina ética. Por isso, espera-se que a presidente não deixe os esqueletos mofar no armário. Até agora, por exemplo, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, não conseguiu explicar a farta autorização de aditivos para obras consideradas irregulares pelo TCU.

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