Em menos de oito meses, quatro ministros demitidos. E não quaisquer ministros. Os mais importantes. Sim, porque há muito tempo a Fazenda deixou de ser uma área de instabilidade no Brasil. Dilma Rousseff perdeu os chefes da Casa Civil, dos Transportes, da Defesa e, agora, da Agricultura. Um cuidava da articulação de todo o governo, outro das principais obras do PAC, o terceiro do reaparelhamento das Forças Armadas, enquanto o quarto respondia pelo setor que hoje garante 100% do saldo comercial brasileiro. Eis a dimensão das quedas de Antônio Palocci, Alfredo Nascimento, Nelson Jobim e Wagner Rossi.

Visto de fora, portanto, o governo Dilma é marcado pela crise permanente. Ainda assim, sua gestão, de acordo com pesquisas recentes, tem uma aprovação popular maior do que a de Lula e de FHC nos últimos quatro mandatos presidenciais. Como entender o paradoxo? Simples. A população adora a “faxina”. Dilma, ao contrário de Lula, teria tolerância zero diante da corrupção, e quem vê de fora aplaude.

Essa aprovação inicial pode até parecer sedutora para a presidente, mas representa uma grande arapuca. A “faxina”, na verdade, atende mais aos interesses das forças derrotadas na última eleição presidencial do que aos de Dilma. Um partido, o PR, já ameaça pular fora da base aliada.

E o objetivo real dos últimos dois escândalos – na Agricultura e no Turismo – era dinamitar a aliança entre PT e PMDB. Uma coalizão que, efetivamente, desloca o eixo de poder no Brasil. E por muito tempo.

Não custa lembrar que o último faxineiro a exercer a Presidência foi Jânio Quadros, que chegou ao poder empunhando a sua vassourinha ética. Sem apoio do Congresso, acabou renunciando diante de terríveis “forças ocultas”. É tanta crise simultânea, no Congresso, na caserna e em outros setores da sociedade, que já há quem sinta um cheiro estranho no ar, como em 1964.

Aparentemente, já caiu a ficha de Dilma. Na crise da Agricultura, ela teve um comportamento bem diferente do que foi adotado na “faxina” dos Transportes. Antes, ela lavou as mãos. Agora, não apenas tentou segurar Rossi como, de fato, delegou a escolha do sucessor ao PMDB, seu principal partido aliado.

Dilma precisa do Congresso tanto quanto o Brasil necessita do combate à corrupção. Mas os surtos de indignação ética não podem ser seletivos. Se o Brasil quer limpar o setor público, que comece então a discutir uma reforma política profunda, com temas como o próprio financiamento público de campanha. “Faxinas” pautadas pela hipocrisia não levarão a lugar algum.