Assista ao vídeo e conheça as diferentes versões da música :

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SEM TEMPO
Com agenda lotada no Brasil, João Bosco e Vinícius não
puderam aceitar os convites para fazer shows na Argentina

A música “Chora, Me Liga”, que há dois anos anima as baladas sertanejas no Brasil, está se tornando um fenômeno também na América Latina. Vertida para o espanhol com o título “Llora, Me Llama”, a canção da dupla João Bosco & Vinícius pode ser ouvida na voz de, pelo menos, duas dezenas de bandas estrangeiras. Foi gravada por artistas colombianos, peruanos, venezuelanos e, claro, argentinos – em Buenos Aires, a canção é uma mania que sobreviveu ao fim do verão e aquece o frio inverno portenho. É ouvida em rádios, lojas, bares e, especialmente, nas pistas de dança. Caiu tanto no gosto popular que passou a ser usada pelas torcidas dos grandes times como grito de guerra – o tom romântico, obviamente, foi trocado por agressões verbais ao torcedor adversário. O primeiro time a usá-la foi o Newell’s Old Boys, logo seguido pelo River Plate. Não se tem notícia se o Boca Juniors aderiu à febre, mas o YouTube traz um clipe do hit, dedicado ao time do coração de Maradona.

João Bosco, que se refere a si mesmo como “o japonês” da dupla, diz que ficou sabendo do fenômeno justamente pelo futebol. Ao visitar o blog do jogador argentino Sergio Aguero, do Manchester City, ele leu com surpresa – e alegria – que a música era a preferida do atacante. “A partir daí, sempre recebíamos da Argentina emails de amigos com filmes de celular mostrando pessoas cantando o nosso refrão”, diz. Nem João Bosco nem Vinicíus foram conferir o fenômeno in loco: não sobra tempo na agenda de 25 shows por mês, fechada até o ano que vem. Por isso, não puderam também aceitar os inúmeros convites para se apresentar no país. Eles pretendem, contudo, tirar “uns três ou quatro dias de folga” para visitar as rádios locais: “Não conseguimos dar conta da demanda de apresentações no Brasil. Nosso foco ainda está aqui”, afirma João Bosco.

Mesmo com a crise fonográfica, o mercado latino ainda representa uma mina de ouro para os artistas, mas, ultimamente, raros nomes nacionais têm conseguido furar o bloqueio do idioma antes conseguido por gente como Roberto Carlos e Caetano Veloso. Há dois anos, a dupla Victor & Leo lançou um CD e um DVD em espanhol, “Nada es Normal”, e no início do ano o cantor Luan Santana estrelou um comercial de tevê em Buenos Aires. Tudo leva a crer que, com o câmbio favorável e a grande afluência de brasileiros à cidade, a onda do sertanejo universitário tenha ido na bagagem. Redes de fast-food portenhas servem sua versão da feijoada, e os difíceis cortes de carne argentinos já trazem tradução para o português. Nos outlets apinhados de brasileiros sempre se ouvem Bruno & Marrone e outras duplas de sucesso. Nada, contudo, que se iguale ao estouro de “Chora, Me Liga”.
João Bosco, que está preparando com Vinícius a versão em espanhol dessa música e de outros sucessos, dá uma pista para se entender a mania.

Ele lembra que o estilo de sua dupla traz elementos dos ritmos do Sul, como o chamamé, originário do norte da Argentina, e a polca paraguaia, gêneros musicais muito comuns em Mato Grosso do Sul, Estado onde nasceram e cresceram, que faz fronteira com o Paraguai. De fato, estudiosos da música sertaneja detectam em sua formação esses dois estilos sonoros.

E também da guarânia – a dupla Cascatinha e Inhanha, por exemplo, gravou “Índia”, mais tarde recuperado pelo tropicalismo, via Gal Costa. Trata-se, portanto, de uma estrada de mão dupla: o nosso sertanejo foi influenciado pelo som dos países fronteiriços e, agora, devolve o resultado deglutido e transformado. Outra fonte de inspiração para os rapazes de bota e camisa xadrez é a canção romântica mexicana, mais precisamente, o cantor Cristian Castro, cujas baladas derramadas integram o repertório de runo & Marrone, Marlon & Maicon, Guilherme & Santiago e das extintas duplas Rick & Renner e Edson & Hudson.
O que estaríamos assistindo, então, seria ao surgimento de um novo estilo: o sertanhol.  

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