chamada.jpg

Uma rápida olhada identifica poucos rostos conhecidos. Mas na relação de brasileiros procurados pela Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, todos são igualmente perigosos. E a lista pública de criminosos pátrios no site da instituição está em plena expansão. Nos últimos dois anos, o número de brasileiros procurados praticamente dobrou, chegando a 173. Entre os fatores que contribuem para essa situação está a vulnerabilidade nas fronteiras e nos aeroportos nacionais, revelada por ISTOÉ na sua edição de 25 de maio deste ano. A reportagem mostrou que a Polícia Federal declinou parte do controle de entrada e saída do País e a emissão de passaportes para despreparados funcionários de empresas terceirizadas – o que é um prato cheio para bandidos em fuga. Mas também há um lado positivo nesse aumento, que é o azeitamento das relações entre autoridades policiais e judiciárias, regulamentado desde o final de 2010 pelo Conselho Nacional de Justiça. O órgão de controle externo do Judiciário brasileiro publicou instrução normativa que definiu regras para a emissão de mandados de prisão internacionais, colaborando para o crescimento dos avisos de foragidos à Interpol, chamada de difusão vermelha.

Com isso, o número de prisões também aumentou. “Do início de 2010 para cá, conseguimos prender 39 foragidos da Justiça brasileira, sendo 24 brasileiros”, informa o coordenador da Interpol no Brasil, o delegado federal Luiz Eduardo Navajas. “É um índice de detenções acima da nossa média histórica.” No País, a Polícia Federal representa a entidade policial intergovernamental, com sede em Lyon (França) e presente em 188 países. A maioria das prisões de brasileiros acontece na Península Ibérica (Portugal e Espanha). São os locais mais procurados pelos criminosos devido à facilidade do idioma. Com base em indícios de que o réu saiu do país em que é acusado, o juiz emite uma ordem de prisão internacional e, nesse momento, escolhe se ele fará parte ou não da lista pública do site. Portanto, há brasileiros caçados sob sigilo pela Interpol, o que deve aumentar o número do total de procurados em cerca de 30%.

Dois casos de brasileiros chamam a atenção pela notoriedade. Há pelo menos sete meses, policiais buscam pistas do paradeiro do ex-médico Roger Abdelmassih, 67 anos, condenado em primeira instância a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres, entre os anos de 1995 e 2008, em sua clínica de reprodução humana em São Paulo. Investigações apontam que ele teria obtido um passaporte falso no Uruguai e de lá fugido para o Líbano, segundo apuração da polícia paulista. Um ótimo destino para um foragido, já que a nação do Oriente Médio não possui tratado de extradição com o Brasil. “Caso ele seja preso nesse país, a extradição pode ser pedida, baseada no princípio do direito internacional da reciprocidade”, explica Navajas.

img1.jpg

Em situação curiosa está um habitué dos tribunais brasileiros na qualidade de réu em diversos processos por desvio de verba pública e enriquecimento ilícito. O ex-prefeito, ex-governador e atual deputado federal (PP-SP) Paulo Maluf está praticamente impedido de sair do País desde março do ano passado, quando a Justiça americana emitiu mandado de prisão contra ele e seu filho, Flávio Maluf, pelos crimes de conspiração, auxílio na remessa de dinheiro ilegal para Nova York e roubo de dinheiro público em São Paulo. “As acusações são falsas”, estrilou Maluf na época. Em tempo: o parlamentar não pode ser preso pela Interpol aqui porque a legislação não permite que um brasileiro seja extraditado do País.

A maioria dos brasileiros procurados é acusada de crime de tráfico de drogas. Mas, nos últimos anos, aumentou o número dos que praticam violência contra crianças, a exemplo de Maria Bernadete de Araújo, 44 anos, procurada pelo Judiciário do Amapá pelos crimes de pedofilia e tráfico de pessoas. Existem também os genocidas, a exemplo do tenente-coronel Antonio Arrechea Andrade, 81 anos, nascido no Paraná e naturalizado argentino e fugitivo há oito anos. Ele é procurado pela Justiça espanhola pela acusação de crimes contra a humanidade por ser membro da repressão da ditadura militar na Argentina (1976-1983).

As buscas por um bandido podem levar anos. Caçado há 12, Celso Schmitt, mais conhecido como Celso Gaúcho, tornou-se uma dor de cabeça para a polícia. Sua extensa ficha criminal inclui pedidos de prisão em oito Estados brasileiros. No final do ano passado, ele foi incluído como alvo da Interpol durante uma operação especial, que caçou 30 criminosos de alta periculosidade em todo o mundo. Mas Celso Gaúcho não foi encontrado, mais uma vez. Para quem tem contas a acertar com a Justiça, o mundo é um vasto esconderijo.  

 

img.jpg