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ÁRVORES ARTIFICIAIS
Ilustração mostra estruturas projetadas por britânicos, capazes de capturar CO2 da atmosfera
 

Nem todo cientista acredita que reduzir as emissões de gases do efeito estufa seja suficiente para conter o aquecimento global. Para esses pesquisadores, o futuro se assemelha mais a um filme de ficção científica do que a uma era de carros não poluentes e processos industriais sem emissão de carbono. A solução, segundo eles, consiste em alterar o ambiente por meio da chamada geoengenharia. As ideias mirabolantes chamaram a atenção do IPCC, o Painel do Clima da ONU, que, recentemente, convocou estudiosos do assunto para falar da viabilidade e dos impactos ambientais que esses inventos causariam, num evento em Lima, capital do Peru.

Como a maioria das criações da geoengenharia nunca saiu do papel, o limite é apenas a criatividade dos cientistas – sem levar em conta custos ou possíveis danos ao ambiente. Todas as “soluções” se baseiam em dois pilares: refletir a luz do sol, para que menos calor chegue à atmosfera terrestre, e capturar o carbono diretamente do ar, compensando as emissões da queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão). Como fazer isso? Desde a construção de “árvores artificiais” que absorvam CO2 até a colocação de espelhos na órbita da Terra, para refletir a luz solar, tudo é cogitado (leia quadro).

“A geoengenharia não substitui a necessidade de reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, diz Paulo Artaxo, físico da Universidade de São Paulo (USP) e membro do IPCC. O pesquisador estava na reunião em Lima. Ele afirma que o evento foi realizado para avaliar os aspectos científicos das tecnologias e que o Painel do Clima não endossa nenhuma das iniciativas por não haver estudos suficientes sobre os impactos ambientais que possam causar. “Os efeitos colaterais podem ser desastrosos”, diz. Alguns deles são tema de um artigo científico assinado pelo cientista que será publicado nos próximos meses na revista especializada “Ambio”. Alterar as nuvens, por exemplo, mudaria o regime global de chuvas. “Se isso for feito nos oceanos Pacífico e Atlântico, haverá uma redução na taxa de precipitação da Amazônia”, afirmou.

Na última Convenção da Biodiversidade da ONU (COP-10), no ano passado, em Nagoya (Japão), foi definida uma moratória para a aplicação da geoengenharia. Mesmo assim, pesquisas na área continuam sendo feitas por órgãos como a Nasa e a Royal Society, do Reino Unido. Nesta última, o oceanógrafo John Shepherd é um dos maiores defensores dessas tecnologias, apesar de não descartar os riscos ambientais. “É aceitável a preocupação de que algo pode dar errado, mas eu não acredito que ela seja tão prejudicial para o meio ambiente como o efeito estufa”, disse no final de 2010. “Nós ainda sabemos muito pouco sobre os possíveis impactos e é por isso que fazemos as pesquisas”, disse.

Phil Rasch, especialista em ciências climáticas do Pacific Northwest National Laboratory, nos EUA, diz que não se trata simplesmente de considerar ou descartar a geoengenharia. “Acho que a maioria dos pesquisadores nessa área está confiante em dizer que não sabemos o suficiente sobre o sistema climático”, disse à ISTOÉ. “Acredito que a maior parte desses mesmos cientistas concorda que é preciso muito mais pesquisas.” 

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