27/11/2009 - 19:00
CLOSET “Gosto de sapatos. Para isso, sou consumista. Mas, melhorei muito”, diz
Atores bonitos têm de se esforçar em dobro para provar que possuem talento. O mesmo acontece com a jet setter Ana Paula Junqueira na política. Mulher, jovem, bem-nascida e milionária, ela causa estranheza ao revelar sua pretensão de chegar à Câmara dos Deputados pelo Partido Verde. Já enfrentou as urnas duas vezes (em 1994 e 2006) sem sucesso. À candidatura de Marina Silva à Presidência, acredita que pode agregar contatos com boa parte do PIB nacional. No Exterior, sua poderosa rede inclui gente do calibre de Naomi Campbell (modelo inglesa), Mick Jagger (roqueiro inglês), Uma Thurman (atriz americana), Nelson Mandela (ex-presidente da África do Sul) e Sarah Brown (primeira-dama da Inglaterra).
"Nas festas badaladas, estou cercada de pessoas muito importantes, que agregam.
Aproveito para tirar o melhor delas. Não vou tomar champanhe e me divertir"
É casada com o empresário sueco Johan Eliash, um dos 50 homens mais ricos da Inglaterra, que comprou 140 mil hectares na Amazônia e uma madeireira ele é acusado pelo governo brasileiro de explorar, comercializar e transportar madeira nobre da floresta. Herdeira de fazendeiros e fluente em cinco idiomas (português, inglês, francês, italiano e espanhol), Ana Paula está sempre nos eventos mais badalados do mundo e mantém residências em São Paulo, Londres e Saint-Tropez. Ana frequentou o curso de administração de empresas, mas não se formou. Ela deu largada à sua vida de jet setter aos 21 anos, época em que namorou o piloto italiano de Fórmula 1 Gianni Morbidelli.
“Meus amigos estão sempre engajados em alguma causa.
Principalmente, Sarah Brown (foto), mulher do primeiro-ministro britânico, e Indra Nooyi, presidente da PepsiCo"
Não sinto preconceito de quem ajudo, porque sou muito transparente e o que faço é verdadeiro. Mas sofro preconceito de muita gente sim, especialmente de quem gosta de me tachar de socialite.
É como se quisessem diminuir o que eu faço, entendeu? Na minha percepção, socialite é uma pessoa despreocupada com questões sociais, que olha apenas para o seu próprio umbigo, que não pensa em ajudar quem precisa.
Eu poderia até ser assim, mas não sou. Sou muito mais que uma socialite.
Olha, eu sou presidente da Liga das Mulheres Eleitoras do Brasil, a Libra, e secretária-geral da Associação das Nações Unidas no Brasil, a Anubra. É por meio da Anubra que desenvolvemos fóruns de sustentabilidade e projetos educacionais.
A ideia da Libra é preparar lideranças femininas para entrar na política, com debates, palestras.
Nós, mulheres, somos ainda muito fracas nesse segmento.
Quando a mulher resolve entrar para a política, tem de quebrar muitas barreiras, como eu quebrei.
Ser mulher, ser jovem, vir de uma família boa, ser bonita. Todos os impedimentos possíveis. Então, a primeira coisa que eu tive de provar é
que a beleza é um complemento do que eu tenho a dizer. Depois, o fato de ser mulher. Sempre acham que as mulheres não são capazes como os homens, nosso salário é mais baixo. Uma porção de coisas.
Não vou a festas e fico até o fim. Vou, marco presença, faço o que tenho que fazer e vou embora. Sou do tipo que precisa dormir muitas horas.
Nas festas mais badaladas, estou cercada de pessoas muito importantes, que agregam. Estar presente é uma maneira de melhorar e ampliar o meu network (rede). Eu aproveito para tirar o melhor dessas pessoas. Não vou tomar uma taça de champanhe e me divertir. Não estou lá para isso.
Sou muito curiosa, estou lá para criar vínculos, me relacionar. E, ao mesmo tempo, as pessoas também gostam de mim porque também tenho coisas a dizer. Quando o clima é mais informal, é melhor para se aproximar, conhecer, bater papo. Essas festas são parte do meu trabalho.
Pessoas interessantes se interessam por quem tem algo a dizer. O que eu procuro fazer no meu rol de contatos é sair da superfície. Eu não vivo na superfície. Eu me aprofundo nas coisas. Eu sou focada. E, além disso, também sou uma amiga leal.
Meus amigos estão sempre engajados em alguma causa, seja a do câncer de mama, da mortalidade infantil, seja da Aids. Estão sempre tocando algum projeto em um país carente. Principalmente a Sarah Brown, mulher do primeiro-ministro da Inglaterra, e a Indra Nooyi, presidente mundial da PepsiCo.
São mulheres que, assim como eu, querem mudar o mundo. No início de 2010, eu e a Naomi (Campbell) vamos nos reunir com a Sarah porque temos a intenção de trazer para o Brasil a fundação White Ribbons, da qual ela é patrona, que luta contra a mortalidade materna e infantil. Eu e a Sarah falamos sobre isso recentemente.
Eu o conheço, mas não sou tão próxima assim. Ele é uma pessoa sensacional, inspiradora por sua determinação. Mesmo preso por 27 anos, ele manteve seus ideais. Considero um privilégio frequentar o mesmo meio que ele. Sou muito amiga do enteado dele, Malenga Mandela, filho da Graça Machel.
Tenho certa humildade em relação a isso. Acho que ela é a grande estrela. Mas no que eu puder agregar e realmente acho que posso, no sentido de levá-la a pessoas que não sabem a mulher que ela é, vou fazer. Acho que posso fazer isso por ela. Para você governar um país, isso é muito importante. Não dá para ficar concentrada em uma só classe.
Eu admiro muito a Marina Silva, pela própria história de vida que ela tem. Ela é uma mulher lutadora, honesta, que se preocupa com o outro. Apesar de a gente vir de mundos diferentes, temos algo em comum. Nosso ponto de encontro é a preocupação com o próximo, é o nosso ideal que é muito parecido. Além disso, a honestidade, o fato de querer ter um País sustentável, de querer ter um mundo sustentável. Nos preocupamos com o mundo, com o próximo.
Depende muito do estrangeiro.
Temos muitas ONGs na região tocadas por gente de fora que nós não sabemos ao certo o que fazem. Tem de ter esse controle. A Amazônia está no Brasil e a responsabilidade é dos brasileiros. Mas acho que os outros países deviam nos ajudar a cuidar dela.
Ele comprou a área para proteger. Era e continua sendo o intuito dele. Apesar de ser algo muito complicado, o desejo dele é mostrar para a
população local que isso é possível.
Não, a madeireira ficava dentro da terra. A madeireira veio com a compra das terras, entende? Inclusive, essa madeireira foi comprada de um fundo americano, não de um brasileiro. Ele comprou porque tinha um projeto ambiental. Ele é dono de uma empresa chamada Head, uma multinacional de produtos esportivos, e um dos principais segmentos dela é o de produtos voltados para a prática de esqui.
E, hoje em dia, com toda essa mudança climática, as estações do ano têm mudado muito e a temporada de esqui é cada vez menor. Então, ele sempre teve essa preocupação ambiental. E, além disso, ele foi criado na Suécia. Ele tem uma mentalidade bem diferente da nossa.
Exatamente. Nada do que está sendo investigado é de responsabilidade dele. Ele comprou as terras em 2005 e um ou dois anos depois ficou sabendo das acusações.
Ah, ele deu uma desanimada, né? Imagina, a pessoa toma uma rasteira dessas, sem precisar!
É muito complicado. Para você ver, ele é uma pessoa séria. Eu aprendo muito com ele, a gente convive muito com cientistas e experts nessa área.
Não. Assim, eu gosto de sapatos. Para isso, sou consumista. Mas, melhorei muito.
Não tenho ideia, mas são muitos. Hoje em dia, sou bem mais controlada.
Hoje, tudo me incomoda. Se eu compro uma roupa e ela vem cheia de etiquetas, fico louca. Por que tanto papel? A primeira coisa que faço é cortá-las para jogar fora. Se ela vem muito embalada, a mesma coisa. Às vezes, falo para a vendedora que não precisa colocar tanta coisa na embalagem. Tudo isso, relacionado ao consumo, me preocupa muito.
Olha, eu não deixo de viver. Mas procuro pensar um pouco antes de comprar. Se não for mudar a minha vida em nada, eu abro mão.
Aos poucos vai dando uns insights. Tudo que eu puder melhorar na minha rotina, eu melhoro. Reciclo lixo, ensino as pessoas que trabalham comigo. São mudanças de hábitos que só vão me fazer bem.