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DESGASTE
Cameron se defende no Parlamento: ele contratou um assessor adepto dos grampos
 

Em um ranking publicado recentemente pela imprensa americana, o magnata de mídia Rupert Murdoch e o primeiro-ministro britânico David Cameron aparecem na lista das dez pessoas mais poderosas do mundo. O escândalo dos grampos do tabloide inglês “News of the World”, de Londres, é tão estrondoso que teve força para causar estragos na reputação de ambos. Murdoch, dono do conglomerado que controla o jornal, teve de pedir desculpas públicas pelas escutas telefônicas ilegais realizadas por seus funcionários – embora isso não tivesse adiantado muito, como provam os protestos que resultaram até em uma agressão feita por um manifestante, que arremessou uma torta de espuma em direção ao empresário. Na semana passada, Cameron, do Partido Conservador, se tornou alvo das indignações que varreram o país. Em meio a cobranças feitas pelos jornais considerados sérios, o primeiro-ministro foi obrigado a dar explicações ao Parlamento. Apesar do esforço para limpar sua imagem, Cameron saiu da sabatina mais desgastado do que entrou.

O primeiro-ministro é acusado de ter se beneficiado do esquema de escutas ilegais ao contratar como principal assessor o jornalista Andy Coulson, ex-editor do “News”. Apelidado de “endiabrado” por seu apetite por notícias sensacionalistas, Coulson seria um dos artífices dos grampos feitos em telefones de celebridades, políticos e jogadores de futebol. Na sexta-feira 8, ele foi preso – o que acabaria por despertar a ira dos adversários de Cameron. Diante dos questionamentos sobre sua relação com o jornalista, que trabalhou como seu assessor entre 2007 e janeiro de 2011, o premiê fez um mea-culpa. “Olhando para trás, eu hoje não teria oferecido a ele o emprego”, disse Cameron. “Vivemos e aprendemos. E, acreditem, eu aprendi.” Nas mais de duas horas de sessão extraordinária para debater o escândalo, Cameron deu respostas evasivas. Tentou trazer os trabalhistas, do partido de oposição, para o centro da crise, ao afirmar que Murdoch ajudou a mantê-los no poder entre 1997 e 2010 e que o magnata era amigo de seu antecessor, Gordon Brown. Rupert Murdoch, que na véspera também prestou depoimento, adotou estratégia diferente, colocando-se no papel de vítima. Pediu desculpas pelo caso e insistiu na versão de que não sabia dos grampos. “A postura, porém, não impediu que fosse alvo da torta de espuma, no que foi prontamente defendido pela mulher, a chinesa Wendi Deng, 40 anos mais jovem.

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OS ENVOLVIDOS
Murdoch lê a edição derradeira do tabloide e a vistosa ruiva Rebekah
Brooks, presa por suspeita de autorizar grampos: enredo policial

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O caso se transformou no maior escândalo da história da imprensa mundial e demonstrou como muitos jornalistas não têm escrúpulos ao buscar uma informação exclusiva. Os repórteres ingleses cometeram um rosário de barbaridades, como grampear os telefones celulares de parentes de soldados britânicos mortos no Afeganistão e violar a caixa postal de uma criança desaparecida e dada como morta, o que acabaria por afetar o curso das investigações. Na segunda-feira 18, o escândalo ganhou um capítulo mórbido, com a notícia da morte do repórter Sean Hoare, primeiro jornalista a denunciar os grampos e que foi encontrado sem vida na sala de casa. Como um verdadeiro enredo policial, até uma mulher fatal está no centro do escândalo. Trata-se da vistosa ruiva Rebekah Brooks, primeira mulher a dirigir um tabloide inglês e que teve a prisão decretada após denúncias de que teria autorizado os grampos. Nos próximos dias, estudantes ingleses pretendem recolher assinaturas pedindo às autoridades a apuração rigorosa dos fatos e a condenação dos envolvidos. O governo certamente não terá trégua, e por isso mesmo as consequências políticas do caso são imprevisíveis. 

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