Gerhard Richter: sinopse/ Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP/ de 23/7 a 21/8

img.jpg
MONOCROMÁTICOS
A tela “Abstract Painting” (acima) pertence à fase da radicalização da pintura
não figurativa. “Uncle Rudi” (abaixo), da fase cinza, é uma pintura fotografada

img2.jpg

Abstracionismo x figurativismo: essa foi uma das rixas mais acentuadas da história da arte. Deu-se especialmente após o surgimento da fotografia, que logo desbancou a pintura do posto de espelho da realidade. O pintor moderno veio afirmar, desde o final do século XIX/início do século XX, a autonomia da arte em relação ao real e instaurou, assim, a crise da representação. Mas esse grande postulado moderno não foi assimilado sem resistência e assistimos, ao longo do século passado, a oscilações permanentes entre as forças da tradição e as da ruptura. Até que, um belo dia, um pintor alemão afirmou que não havia oposição entre esses dois postulados. Seu gesto foi tão significativo que, desde então, Gerhard Richter é aclamado entre os mais importantes artistas da contemporaneidade. “Gerhard Richter: Sinopse”, exposição com 27 obras realizadas entre os anos 1960 e 1990, na Pinacoteca de São Paulo, mostra o percurso desse grande artista que realiza uma pintura tão figurativa quanto abstrata e conceitual.

O impulso figurativista brota em Richter logo no início de sua trajetória, no contexto do realismo socialista que o cerca em Dresden, cidade natal, parte da antiga República Democrática Alemã. Mas, em 1961, quando transfere-se para Düsseldorf, na então Alemanha Ocidental, o jovem artista entraria em contato com a pintura informal (abstrata) e com a iniciante pop art (figurativa). Talvez a partir desse choque cultural tenha surgido a forte integração da pintura e da fotografia em seu trabalho.

img1.jpg
FIGURA
“Betty”, retrato pintado em 1988, foi fotografado em 1991. A Pinacoteca expõe a foto

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

A relação de Richter com a representação fotográfica da realidade passa a ser marcante. Em Düsseldorf, ele começa a colecionar fotografias de várias procedências: de imagens de própria autoria a fotografia amadora e fotojornalismo. A partir desse acervo, começa uma série de pinturas monocromáticas em cinza. Nesse gesto de reduzir a foto colorida à pintura em preto e branco, assume autoria da imagem apropriada. Para além das competências de um pintor padrão, assume o apropriacionismo como gesto artístico. Com isso, dá início a uma pintura de cunho altamente conceitual, que influenciaria várias gerações em meio mundo.

O ciclo completo das relações entre foto e pintura na obra de Richter pode ser apreciado na Pinacoteca do Estado de São Paulo. A exposição inclui uma série de pinturas que foram produzidas a partir de fotografias. Mais surpreendentes são aquelas pinturas nascidas de fotos e depois novamente convertidas em imagens fotográficas. Esse é o caso de “Uncle Rudi”, retrato de militar apropriado e pintado em 1965 e depois fotografado em 2000, e “Betty”, retrato pintado em 1988 e fotografado em 1991. A Pinacoteca expõe as versões fotográficas dessas obras, em cibachrome, técnica em que a imagem é captada e ampliada diretamente no papel e em off-set.
 

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias