Bastou Barack Obama ser eleito presidente dos Estados Unidos para a política ser interpretada por um prisma racial. Ao escolher um negro para chefiar a Casa Branca, os americanos estariam deixando para trás décadas de discriminação. Pode ser que isso seja verdade lá dentro, mas os embaixadores informais do país, aqueles que travam os primeiros contatos com outros povos, não aprenderam a lição. Na semana passada, comissários da American Airlines teriam dispensado tratamento racista ao sambista Dudu Nobre e a sua esposa, Adriana Bombom. Consta até que um dos tripulantes teria imitado um macaco diante das duas filhas do casal. O incidente parou na delegacia, a empresa abriu uma investigação interna, mas certo mesmo teria sido autuar e prender os comissários em flagrante por um crime que, no Brasil, é inafiançável.
O fato é que a American Airlines, companhia aérea símbolo da aviação americana, tem um histórico de lamentáveis ocorrências no Brasil. Em 2004, um de seus pilotos, Dale Hersh, foi preso porque não queria enfrentar as filas da imigração e debochou do sistema brasileiro de triagem de estrangeiros, mostrando o chamado "dedo do meio" para as câmeras da Polícia Federal. Foi preso por desacato e só conseguiu sair depois que a empresa pagou a fiança de R$ 36 mil. A identificação com as digitais era uma medida de reciprocidade em relação às crescentes humilhações que os brasileiros enfrentavam para entrar na terra do Mickey e do Tio Sam. Depois disso, a companhia também soltou uma preconceituosa cartilha sobre como proceder em relação a passageiros brasileiros.
Pode-se imaginar que os americanos estejam angustiados com sua própria decadência. Em meio a uma crise econômica de grandes proporções, que eles criaram e exportaram para o resto do mundo, os Estados Unidos carregam um rombo trilionário nas suas contas internas e externas. Portanto, precisarão cada vez mais dos dólares mestiços que vêm dos países emergentes. Um bom começo seria treinar os "diplomatas" da American Airlines em questões como cortesia, respeito e educação. Uma proposta ainda melhor seria convidar, voando na primeira classe, Dudu Nobre e Adriana Bombom para o baile inaugural do casal Obama na Casa Branca, que até poderia ser um batuque de ioiô e iaiá. Afinal, como já previa o compositor Assis Valente, chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor e do Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar.