Uma erva conhecida dos brasileiros e fácil de ser cultivada pode se transformar em matéria-prima de um novo produto de combate às cáries. No Nordeste, o dentista Marco Botelho, da Universidade Federal do Ceará, acaba de realizar uma pesquisa na qual constatou a eficácia do alecrim-pimenta, abundante na região, na prevenção do problema. E na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, outro trabalho também aponta o benefício da planta – nesse caso, a variante estudada é o alecrim-do-campo – para a mesma finalidade. Essas descobertas são importantes porque representam uma oportunidade de obtenção de mais um recurso acessível contra uma das mais sérias questões de saúde pública do País. Segundo o Ministério da Saúde, nove milhões de brasileiros já perderam todos os dentes e não têm próteses. Mais. A cada quatro pessoas que completam 60 anos, três estão banguelas.

Na verdade, o alecrim vem sendo estudado há anos por causa de suas propriedades. Entre elas, a de ser um eficaz antimicrobiano. E foi essa característica que atraiu os cientistas para a investigação de seu poder contra as bactérias causadoras da cárie (a mais comum é a Streptococcus mutans). O trabalho cearense, feito em parceria com a Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, é o que está em estágio mais avançado. Um enxaguatório bucal produzido a partir do extrato da erva foi testado em 81 pessoas. Durante uma semana, eles fizeram bochechos com o produto duas vezes ao dia, além, é claro, de realizarem a higiene bucal correta (escovação adequada e uso de fio dental). Uma semana depois, a presença de bactérias na saliva tinha caído 70%. “Uma das principais vantagens do enxaguatório em relação a vários dos que estão disponíveis no mercado é o fato de que ele não possui álcool, composto que em grande concentração pode irritar a mucosa”, afirma Botelho. A menina Monalisa dos Santos, sete anos, moradora de Mundaú, a 150 quilômetros de Fortaleza, já experimentou o produto. Orientada pelo grupo de Botelho a cuidar melhor dos dentes, agora pode exibir o sorriso aberto.

Em São Paulo, o trabalho com o alecrim-do-campo foi realizado por enquanto somente em laboratório, mas indica resultado semelhante ao obtido no Ceará. A pesquisadora Denise da Silva Leitão testou a eficácia do extrato das folhas da planta contra as bactérias e verificou sua ação positiva. Agora, outro cientista, da mesma universidade, está trabalhando para obter uma formulação farmacêutica a partir do composto. “A idéia é conseguirmos fazer um produto brasileiro”, diz Denise.

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