Disputei nove campanhas em 11 anos. Nunca vi uma sem caixa 2, pelo menos nas de que participei.” A declaração do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto, hoje prefeito de Uberaba – e ainda no PL –, espantou na quarta-feira 9 os membros da CPI do Mensalão: era uma demonstração de franqueza ou de cara-de-pau a toda prova. Adauto, personagem de escândalos de todo tipo durante seus 14 meses como ministro, todos denunciados por ISTOÉ (o primeiro com apenas 20 dias no cargo – edição 1737, de janeiro de 2003), não se limitou a confessar useiro e vezeiro de caixa 2. “Não me eximo de responsabilidade. Digo que todas as campanhas eleitorais do Brasil são assim. É cínico e é cinismo quem disser que não é assim”, afirmou.

E foi além ao explicar por que recorreu a Delúbio Soares, recebendo R$ 410 mil
do valerioduto (Marcos Valério fala em R$ 1 milhão), para saldar dívidas de campanha: “Como ministro, poderia resolver meus problemas com os fornecedores do Ministério. Não fiz; procurei o tesoureiro da campanha majoritária. O cargo me permitiria, mas não fiz. Do ponto de vista ético e moral, estou consciente”, afirmou. O comentário assustou a subrelatora da CPI, deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP): “O que o senhor acaba de dizer só piora sua situação. Isso é horrível, é corrupção”, atacou.

Corrupção é parte da vida de Adauto há muito tempo. No começo dos anos 1990, montou um esquema de corrupção de R$ 4 milhões na Prefeitura de Iturama (MG). Seu parceiro, Aélton de Freitas, hoje senador, que se elegeu como suplente do vice-presidente José Alencar, era o prefeito. No início de 2004, Adauto finalmente saiu do governo, voltando à Câmara. Ele garante que na campanha para a Prefeitura de Uberaba não usou caixa 2 porque “a expectativa de vitória era muito grande” e não teriam faltado recursos. Adauto diz que sabe de caixa 2 desde 1998, quando apoiou Itamar Franco ao governo de Minas Gerais. A mesma campanha na qual Eduardo Azeredo, então governador, usou milhões do hoje famoso esquema de Marcos Valério. Azeredo já perdeu o cargo de presidente do PSDB. Adauto deve ser processado por crime de responsabilidade, corrupção passiva e crime eleitoral.